As dinâmicas da sustentabilidade empresarial: desafios e oportunidades para o futuro

CATÓLICA-LISBON
Segunda, Janeiro 27, 2025 - 10:30

O ano de 2025 será um ano de mudanças. Desde os enquadramentos regulamentares às inovações tecnológicas, passando por alterações políticas e recuos de grandes atores do mercado, é inegável que as empresas terão de aprender a navegar por estes desafios e identificar oportunidades para liderar os esforços, gerando valor partilhado e vantagens competitivas.

À medida que iniciamos um novo ano, é comum debatermos o que esperar dos próximos meses. Nas nossas vidas pessoais, este é um momento para refletir sobre a trajetória percorrida, visualizar o que desejamos alcançar e estabelecer novos objetivos. Renovamos compromissos e abraçamos, com entusiasmo, um novo começo. O mundo empresarial não é muito diferente. Embora o calendário e os prazos possam variar, o conceito de recomeçar, explorar novas oportunidades e traçar novos caminhos faz parte da cultura corporativa. Este período pode funcionar como um estímulo adicional para novas realizações. Por isso, não é surpreendente encontrar inúmeros artigos que refletem sobre os eventos passados e discutem tendências e expectativas para os próximos meses. Este artigo insere-se nessa categoria, servindo como um convite para refletirmos sobre as expectativas para a sustentabilidade no próximo ano, à luz dos eventos que já estão a delinear as perspetivas para 2025.

A sustentabilidade está a redefinir as trajetórias empresariais, influenciando profundamente os processos de tomada de decisão e as prioridades corporativas. Um exemplo evidente é a mudança impulsionada pela Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), que permanece no centro das discussões sobre sustentabilidade. As primeiras empresas abrangidas por esta diretiva irão publicar os seus relatórios utilizando este novo enquadramento nos próximos meses, o que tem orientado significativamente os esforços das empresas ao longo do último ano. Assim, o cumprimento das novas exigências continuará a ser uma prioridade, enquanto as empresas se adaptam ao maior nível de detalhe e escrutínio nos seus relatórios. Contudo, a CSRD vai além do cumprimento normativo ao exigir que as empresas repensem as suas estratégias e políticas de sustentabilidade, incentivando debates em toda a organização.

Para atender a estas expectativas, as empresas estão a recorrer a tecnologias e ferramentas avançadas de análise. Inovações como blockchain e inteligência artificial (IA) estão a ser utilizadas para melhorar a qualidade dos dados, garantir a sua integridade e aumentar a rastreabilidade. A integração destas tecnologias é particularmente relevante para enfrentar o desafio das emissões de escopo 3, que abrangem a totalidade das cadeias de valor. Contudo, preocupações sobre o impacto ambiental dessas tecnologias — como o consumo de água necessário para arrefecer os servidores e o próprio consumo de energia — destacam a necessidade da sua adoção equilibrada e de inovações nos recursos aplicados para manter estas tecnologias em funcionamento. Este tema será, provavelmente, um dos pontos de debate ao longo do ano.

O panorama mais amplo da sustentabilidade também está em evolução, com os critérios ambientais, sociais e de governação (ESG) a manterem-se no centro das discussões. Contudo, alterações significativas podem estar em curso. A decisão da BlackRock de se retirar da iniciativa Net Zero Asset Managers indica uma potencial reavaliação de como as grandes instituições financeiras abordam os seus compromissos climáticos. Este movimento, aliado a notícias recentes de empresas líderes que recuaram nos seus compromissos de sustentabilidade, levanta questões urgentes sobre a resiliência dos esforços globais para combater as alterações climáticas.

 

Um estudo recentemente publicado pela Deloitte destaca que as alterações climáticas estão entre as três principais preocupações dos líderes globais. O estudo também relata que os executivos estão a priorizar e aumentar os investimentos em sustentabilidade, com um crescimento significativo em relação ao ano anterior. No entanto, é preocupante verificar que, ao longo do último ano, várias empresas recuaram nos seus compromissos de sustentabilidade, incluindo Coca-Cola, Unilever, Gucci, Bottega Veneta, TotalEnergies e Air New Zealand. Este retrocesso compromete significativamente os esforços globais para alcançar os Objetivos da Agenda 2030, criando precedentes que podem levar outras empresas a seguir uma postura semelhante. No âmbito social da sustentabilidade, também ocorreram disrupções: a Meta, por exemplo, descontinuou recentemente os seus programas de Diversidade, Equidade e Inclusão, citando mudanças nas prioridades. Esta decisão gerou grande controvérsia nas redes sociais, podendo influenciar a posição da empresa no mercado e a sua capacidade de atrair e reter jovens talentos — para não mencionar o impacto no valor que entrega aos seus consumidores.

Apesar destes desafios, algumas empresas mantêm-se firmes nos seus compromissos. Um número crescente de organizações parece estar a incorporar os princípios da economia circular no design de produtos e na gestão de resíduos, especialmente em setores como a moda, a eletrónica e as embalagens, reconhecidos pelo seu impacto ambiental adverso. Projetos de preservação da biodiversidade e de compensação de carbono também estão a ganhar destaque, com abordagens inovadoras para restaurar ecossistemas, combater a desflorestação e desenvolver outras soluções baseadas na natureza.

Embora a Meta tenha anunciado recentemente o desmantelamento dos seus programas sociais, outras organizações estão a reconhecer cada vez mais o valor de estratégias sustentáveis para a gestão da força de trabalho. Estas empresas estão a investir em benefícios direcionados aos colaboradores e às comunidades onde atuam, reforçando a sua capacidade de criar valor, tanto internamente como externamente.

Estas reflexões sublinham a natureza dinâmica da sustentabilidade empresarial e os inúmeros desafios que enfrenta. O ano de 2025 será um ano de mudanças. Desde os enquadramentos regulamentares às inovações tecnológicas, passando por alterações políticas e recuos de grandes atores do mercado, é inegável que as empresas terão de aprender a navegar por estes desafios e identificar oportunidades para liderar os esforços, gerando valor partilhado e vantagens competitivas. Para isso, é essencial contar com líderes responsáveis e comprometidos, que se mantenham firmes nos seus compromissos de sustentabilidade e adotem posições claras sobre questões críticas. Mais do que nunca, necessitamos de agentes de mudança capazes de transformar desafios em oportunidades e de inspirar outros a seguir um caminho de responsabilidade e impacto positivo.

Natália Cantarino, Researcher no Center for Responsible Business & Leadership da CATÓLICA-LISBON