Estamos mergulhados numa era de excesso informativo. O paradoxo é que, em vez de nos sentirmos mais esclarecidos, ficamos paralisados. A boa notícia é que já existem estratégias simples, mas eficazes, para lidar com a infoxicação e recuperar a clareza na tomada de decisões.
 

Há algum tempo, tive de tomar uma decisão importante na minha organização. Estávamos a avaliar a possibilidade de lançar um novo serviço — algo que poderia abrir portas, mas também implicava investimento, reformulação de processos e algum risco. Comecei a mergulhar em dados: análises de mercado, relatórios de tendências, feedbacks de clientes, benchmarks de concorrência, previsões económicas, webinars, white papers… tudo.

Quanto mais investigava, mais surgiam variáveis e hipóteses. De repente, já não estava a analisar — estava a afogar-me em informação. E o que era para ser uma decisão estratégica clara tornou-se uma maratona mental desgastante. Foi aí que me confrontei com uma realidade desconcertante: o excesso de informação, em vez de me dar confiança, estava a travar-me. E comecei a pensar — quantas decisões estamos a adiar não por medo, mas por saturação?

Nunca tivemos acesso a tanta informação como agora. Não há muito tempo, as fontes eram limitadas e bem definidas: os meios de comunicação social, os livros, e a academia, grosso modo. As decisões tomavam-se com base nesses pilares, considerados mais do que suficientes.

Mas o mundo mudou – e mudou radicalmente. Hoje, para além das fontes tradicionais, estamos expostos a uma avalanche diária de dados vindos das redes sociais, comentários, sites, e-mails, aplicações, newsletters e e-books. A lista não tem fim. Estamos mergulhados numa era de excesso informativo. A cada instante, surgem novas opiniões, sugestões, análises e recomendações para tudo: o que comprar, como desenvolver e crescer na carreira, como melhorar as relações ou gerir a nossa saúde.

O paradoxo é que, em vez de nos sentirmos mais esclarecidos, ficamos paralisados. O excesso de opções atrapalha. No final do dia, acabamos confusos, mentalmente exaustos e até frustrados. Esta sobrecarga tem nome: infoxicação.

E não é apenas uma questão pessoal. Trata-se de uma consequência direta do sistema em que vivemos, que nos empurra para o consumo incessante de dados e para a ideia de que estar sempre atualizado é uma obrigação. Estudos da Harvard Business Review confirmam que este excesso leva ao que chamam de “paralisia da escolha” – um fenómeno em que a análise de múltiplas variáveis torna o ato de decidir mais lento e penoso.

A infoxicação, termo utilizado pela primeira vez pelo físico espanhol Alfons Cornellá em 1996, refere-se precisamente ao esgotamento mental e emocional causado pelo bombardeamento constante de informação. Com a internet sempre ao nosso alcance, este fenómeno tornou-se parte do nosso dia-a-dia. Somos invadidos por dados de tantas direções que se torna difícil filtrar, priorizar e transformar essa informação em conhecimento útil. O resultado manifesta-se em ansiedade, stress, fadiga mental e, acima de tudo, na incapacidade de nos concentrarmos e de tomarmos decisões rápidas e eficazes.

Esta dificuldade afeta tanto o contexto profissional como o pessoal. Quando temos demasiadas opções, ficamos bloqueados, com medo de errar ou de perder uma escolha “melhor”. E quanto mais adiamos, mais nos desgastamos. Muitas vezes, não decidimos nada. Este bloqueio é conhecido como “paradoxo da escolha” ou “choice overload”, conceito popularizado pelo psicólogo Barry Schwartz. Curiosamente, quanto mais opções temos, menor é a nossa satisfação com a decisão tomada — e maior a dúvida se fizemos ou não a escolha certa.

Dizemos muitas vezes que “ignorância é uma bênção”, mas não é verdade. Nada substitui a liberdade de decidir com conhecimento. De tomar decisões com base em informação. Mas o excesso tem o efeito contrário. A informação, quando em demasia, em vez de nos empoderar, fragiliza-nos. Sentimo-nos inseguros, incapazes de agir e acabamos reféns de um ciclo de análise interminável.

A boa notícia é que já existem estratégias simples, mas eficazes, para lidar com a infoxicação e recuperar a clareza na tomada de decisões. Este tema tem vindo a ser amplamente estudado. O primeiro passo é limitar o consumo de informação. Menos pode ser mais. Estabelecer horários específicos para consultar e-mails ou redes sociais ajuda a evitar interrupções constantes e a reduzir o ruído desnecessário.

Também é essencial escolher bem as fontes que seguimos. Nem toda a informação é válida ou útil, ou até verdadeira. É preciso fazer uma curadoria ativa: filtrar, segmentar e focar no que realmente importa. Só assim conseguimos transformar dados em conhecimento.

Outro truque prático é simplificar as escolhas. Reduzir o número de opções a considerar diminui a ansiedade. E definir prazos para decidir ajuda a criar um sentido de urgência saudável, que combate a procrastinação.

Mas talvez o mais importante seja aceitar a imperfeição. Nem todas as decisões vão ser brilhantes — e está tudo bem. Às vezes, o “suficientemente bom” é melhor do que a busca do “perfeito”. Essa aceitação alivia o peso da responsabilidade e liberta-nos para agir.

A infoxicação está a afetar a nossa forma de pensar e decidir. Vivemos saturados, ansiosos e muitas vezes bloqueados. A solução passa, de facto, por filtrar melhor, consumir menos e, sobretudo, aceitar que decidir é, por natureza, um ato imperfeito. Ignorância não é uma bênção, mas excesso de informação também não. O equilíbrio está no meio: entre saber o suficiente e ter coragem para agir com o que já sabemos.

 

Alexandra Peixinho Abreu, Diretora de Comunicação da CATÓLICA-LISBON