2018 Desafios para Portugal, um ano de reflexão
Numa análise inspiradora ao panorama económico nacional e internacional, a Católica Lisbon School of Business and Economics desafia todos os seus stakeholders a conversarem sobre as suas expectativas e inquietações para 2018. Assim, ao longo do ano, vai ser dinamizado um conjunto de conferências – Knowledge@CatólicaLisbon – com o objetivo de discutir e estudar os principais desafios para o país, selecionados por um painel de 25 mil participantes.
A primeira conferência, que se realizou a 5 de fevereiro, teve como objetivo lançar a iniciativa e desafiar a sociedade civil a unir esforços para construir um futuro promissor para Portugal e para todos nós. Esta conferência contou com a participação de Nuno Fernandes, Dean da CATÓLICA-LISBON, de Ricardo Reis, Diretor do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, de João Gomes da Silva, Administrador da Sogrape, de Isabel Guerreiro, Diretora do Banco Santander, de Paulo Pereira da Silva, Presidente da Renova e de Ricardo Gonçalves Pereira, CEO da Yunit Consulting que lançou o desafio Prémios Heróis PME.
Inquérito da CATÓLICA-LISBON determina envelhecimento da população, qualidade da justiça e competitividade como os principais Desafios para Portugal.
Nesta primeira conferência – 2018 Desafios para Portugal – Nuno Fernandes, Dean da CATÓLICA-LISBON, fez uma análise ao panorama socioeconómico nacional e internacional, apresentando os resultados do inquérito que a CATÓLICA-LISBON lançou a uma amostra de 25 mil pessoas da sociedade civil. Os inquiridos puderam ordenar por grau de importância 15 temáticas, de um conjunto de cerca de 50, representativas dos desafios propostos para 2018. Dos resultados, foi apurado que:
- Quase 55% dos inquiridos escolhem o envelhecimento da população como desafio, mas a preocupação com este tema é maior entre os mais jovens;
- 54,3% dos inquiridos referem a qualidade da Justiça como um dos desafios principais;
- 45,7% dos inquiridos manifestam preocupações com a competitividade das empresas;
- Quase 40% dos inquiridos preocupam-se com a excessiva burocracia e 37% com a dependência do Estado;
- Os desafios relacionados com a organização do Estado e a situação política do país não parecem ser a primeira preocupação dos inquiridos (tirando obviamente a situação da Justiça);
- Os desafios relacionados com situação política externa também são remetidos para uma avaliação marginal (Brexit, situação em Espanha, refugiados, etc).
Os respondentes ao inquérito têm entre os 17 e os 71 anos, sendo que a média de idades é de 34.2. Da amostra, 43% são licenciados, 25% são mestrados, 28% concluíram apenas o secundário, 2% têm doutoramento e 2% apenas o ensino básico. Os respondentes com ensino superior estão maioritariamente no universo da economia e gestão.
Sob uma premissa de partilha, repartida em vários momentos ao longo do ano, iremos identificar, analisar e debater os principais desafios para Portugal. E como consequência, alertar, orientar, auxiliar os responsáveis económicos, sociais e políticos a tomarem decisões informadas e ponderadas sobre a melhor forma de superar os desafios que se nos colocam.
Para ver a conferência, clique aqui
Para mais informações: Conference Program, Photo Report
Testemunhos
Penso que um dos principais desafios que Portugal enfrenta é a aceleração da digitalização dos processos públicos. Ou seja, o desafio é usar tecnologia para agilizar vários processos públicos que hoje em dia ainda funcionam usando meios tradicionais. Isto pode ser amplamente implementado. Vou dar-vos alguns exemplos. Primeiro, deveria ser possível comprar e gerir online os bilhetes de transportes públicos – como por exemplo o LisboaViva card. Segundo, deveria ser possível solicitar o NIF online ou pedir online uma marcação com o SEF. Terceiro, deveria ser possível acompanhar online a evolução de certos processos (por ex., carta de condução, consultas médicas, etc.). Posso pensar em muitos outros exemplos, mas a ideia é pôr fim a todos os processos que requerem que as pessoas formem longas filas, para preencherem formulários com uma caneta e passarem várias horas fora do local de trabalho para organizarem algo que poderia ser facilmente feito online. Isto porque acredito que o uso da tecnologia para substituir processos tradicionais poderá aumentar a produtividade e a eficiência dos portugueses e tornar Portugal num lugar ainda melhor para se viver.
Ana M. Aranda
Professora Assistente de Estratégia
Tornar-se num Polo de Talento e Inovação na Europa - As perspetivas económicas de Portugal a longo prazo são terríveis: com uma das populações mais envelhecidas de qualquer país do mundo, uma população ativa a reduzir, baixa produtividade e uma dívida pública e privada elevada, Portugal vai enfrentar desafios económicos e sociais significativos nas décadas futuras. Contudo, 2018 promete um ambiente económico muito benéfico, com baixas taxas de juro, o mais rápido crescimento económico na Europa e a continuação de um boom no turismo, no imobiliário e nas exportações que tiveram início em 2016 em Portugal, levando a um forte crescimento do emprego.
Perante este ambiente benéfico, temos uma oportunidade única em 2018 para reforçar o único posicionamento viável para Portugal: sermos um Polo de Talento e Inovação. Portugal só pode prosperar na economia global se nos tornarmos no lugar mais atrativo na Europa para viver, trabalhar, investir, visitar ou gozar a reforma. Vamos precisar de abraçar a imigração de pessoas qualificadas e o regresso de muitos portugueses talentosos atualmente na diáspora. Precisamos de promover o investimento empresarial internacional (em particular de startups inovadoras e de centros multinacionais de partilha de serviços). Precisamos de garantir uma sociedade inclusiva e coesa, que é segura e acolhedora. Precisamos de fortalecer as atividades culturais, ecológicas, científicas e desportivas que atraem talento global.
A boa notícia é que já estamos a meio deste caminho. Concluí-lo através de um forte alinhamento entre agentes privados e autoridades públicas é a caminho a seguir para Portugal.
Filipe Santos
Professor Titular de Empreendedorismo Social
O principal desafio para Portugal é, ainda, a falta de capital, o problema dominante desde o início do século. Os problemas que causaram a crise financeira continuam remanescentes, não só nos níveis elevados de dívida e baixo crédito, mas também no nível reduzido de poupanças. O investimento líquido foi negativo na maior parte da última década, reduzindo o capital produtivo. A isso acrescentam-se os problemas estruturais com capital humano, não apenas nos níveis educativos, mas também nos dados demográficos. Daqui resulta uma baixa produtividade laboral. O atual crescimento apenas é gerido através da redução do desemprego, sem contribuição do capital e da produtividade. Durante esta geração, Portugal tem sido um país em decréscimo, não apenas físico, mas também em termos económicos. Esta tendência deve ser revertida, o que é muito difícil, uma vez que as orientações políticas e culturais não reconhecem o problema e estão obcecadas com os níveis de consumo.
João Luís César das Neves
Professor Catedrático
Manter a mão de obra qualificada – além de uma baixa taxa de fertilidade, Portugal assistiu à partida em massa de mão de obra qualificada. Para o crescimento futuro, é crucial conseguir atrair e manter trabalhadores produtivos.
Catarina Reis
Professora Assistente
Um desafio a longo prazo: fertilidade - O número de nascimentos em Portugal reduziu em 2017, depois de um pequeno aumento nos dois anos anteriores. Sabe-se agora que o aumento nesses dois anos foi apenas uma compensação transitória por nascimentos adiados durantes os piores tempos da crise económica. À medida que a economia normaliza, voltamos à tendência de declínio nos nascimentos. Enquanto país, um dos nossos desafios mais importantes é reverter esta tendência. Outros países mostraram que as políticas são importantes e está na hora de mudarmos as nossas políticas. O que é que devemos fazer para incentivar as pessoas a terem mais filhos?
Um desafio a curto prazo: turismo - O turismo tem sido responsável por uma parte significativa do crescimento da economia portuguesa nos últimos tempos. Entre as atividades turísticas, o crescimento no alojamento local impulsionado por empresas como a Airbnb tem sido notável. Contudo, esta tendência gerou uma oposição dos inquilinos que perdem com o aumento dos valores do imobiliário e dos vizinhos que suportam algumas das consequências negativas do comportamento dos ocupantes de curta duração. Neste momento há tentativas de regular excessivamente esta atividade e matar efetivamente a galinha dos ovos de ouro. Contudo, a economia básica diz-nos que não deve ser difícil transformar estas oportunidades em situações de ganho mútuo. Como regulamentar o alojamento local para que se extraiam o máximo de benefícios para o máximo de pessoas?
Miguel Gouveia
Professor Associado
Penso que o desafio é atrair e manter trabalhadores excelentes. Muitos portugueses inteligentes e trabalhadores mudam-se para o estrangeiro por causa de oportunidades que remuneram melhor ou têm melhores condições de progresso na carreira. Por comparação, menos estrangeiros com elevado desempenho se mudam para Portugal. Os organismos públicos como o SEF, a Segurança Social, as Finanças e o IMT desperdiçam muito do tempo das pessoas. Pode ser boa ideia tornar estes organismos mais eficientes e eficazes. Pode também ser boa ideia os empregadores garantirem que há uma ligação entre o desempenho de um trabalhador e a remuneração que lhe é paga (em coerência com o conselho do antigo diretor de recursos humanos da Google, Laszlo Bock, de "pagar injustamente"), além de garantir que as promoções são justas e baseadas em definições claras de mérito. Isto é importante porque o custo de vida em Lisboa está a aumentar rapidamente.
Andrew Hafenbrack
Professor Assistente
A transformação digital vai ser o maior desafio para Portugal em 2018: os nossos estudos no Smart City Innovation Lab mostram que a transformação digital vai afetar cada vez mais as pessoas, as organizações e a sociedade como um todo. Embora este seja um grande desafio para Portugal, é também uma grande oportunidade para que todos os envolvidos se posicionem e fiquem na pole position da competição (internacional).
René Bohnsack
Professor Assistente