ESG não é mesmo sobre Sustentabilidade: quer saber porquê?

Imprensa
Segunda, Setembro 12, 2022 - 10:00

ESG não é o mesmo que “Sustentabilidade” ou “Impacto”. Assim sendo, não podemos usar estes conceitos como se fossem equivalentes pois, provavelmente, estaremos a tomar decisões erradas.

Esta é uma das conclusões de Van Zanten e Huij, num artigo que acaba de ser publicado, onde os autores estudaram a eficácia dos ‘ratings ESG’ em comparação com o ‘SDG[1] Score’, no que toca à medição da contribuição das empresas para as ambições de sustentabilidade.

De facto, é de conhecimento comum que os investidores estão cada vez mais atentos aos temas de sustentabilidade e que o investimento de impacto (sustainable investing) está a tornar-se mainstream. Esta tendência ocorre enquanto o desenvolvimento sustentável é cada vez mais reconhecido como um aliado do lucro e da criação de valor para as empresas e sociedade. Ao mesmo tempo, para muitos investidores e curiosos do tema, os rankings ESG são o principal instrumento para verificar se uma empresa é sustentável ou não. No entanto, os autores do referido artigo desmistificam a fiabilidade destes ratings, mostrando que:

Os ratings ESG falham na capacidade de medir os impactos de sustentabilidade das empresas e, portanto, não são adequados para medir a performance de sustentabilidade das empresas
Se os investidores ou os profissionais da sustentabilidade querem compreender e medir a performance de sustentabilidade das empresas, então métricas como o SDG Score são muito mais informativas e fiáveis.

De verdade? Então do que falamos quando nos referimos a ESG?

As avaliações ESG medem a exposição das empresas a riscos (E)conómicos, (S)ociais e de (G)overnança e a sua repercussão sobre a performance financeira. Não medem os impactos positivos e negativos das empresas na sociedade e no mundo. Esta realidade tem repercussões intensas sobre as empresas que, em vez de investirem na sustentabilidade futura das suas operações, gastam o seu dinheiro a reportar e gerir riscos que não são geradores de valor. Deste modo, não podemos esperar que estratégias que incorporem o ESG contribuam para o desenvolvimento sustentável. Estas estratégias são apenas mitigadoras de risco, com um objetivo final: gerar melhor performance financeira (não um mundo melhor).

Além disto, os autores também se focam em dois outros pontos importantes. Os ratings ESG são dispersos e não normalizados, o que gera uma “aggregate confusion” ou “uma confusão agregada”. Adicionalmente, os ratings ESG são enviesados, pois avaliam melhor as empresas com mais recursos e capacidades acrescidas para reportar e comunicar as suas métricas ESG.

Com base nestas descobertas, Van Zanten e Huij sugerem (em alternativa) o uso de SDG Score, que mede as contribuições das empresas para os SDGs (ODS), de acordo com 7 níveis de impacto negativo e positivo.  Como os ODS são a única agenda universal de prosperidade para o mundo, estes solucionam a dispersão nos critérios medição, que representa um problema no caso das métricas ESG, englobando todas as métricas num só framework universal e comum. Além disto, as contribuições das empresas para estes objetivos são contribuições diretas para o desenvolvimento sustentável e para um mundo melhor – não estratégias de mitigação e risco. 

Conclusões

Este estudo vai ainda mais além no teste da performance dos ratings ESG (Sustainalytics, Refinitiv ESG rating, S&P and MSCI) e do SDG Score. Conclui que o SDG Score tem melhor performance em todos os testes realizados, mostrando que:

O SDG score captura melhor as preferências de sustentabilidade dos investidores, excluindo do portfolio empresas  que não são sustentáveis, e incluindo empresas com impacto positivo (algo que os ratings ESG não fazem).
O SDG score está alinhado com a taxonomia europeia
O SDG score contribui mais para as ambições das alterações climáticas.

Deste modo, se estava surpreendido que empresas altamente poluidoras ou prejudiciais para a saúde humana estejam no top dos ratings ESG, agora já não está. Não podemos esperar que empresas com estratégias alinhadas com os critérios ESG tenham estratégias sustentáveis per si, porque isso não é o que estas métricas medem ou procuram atingir.  Se quiser ser sério na forma de medir as contribuições societais das empresas, só há um caminho universal e uma agenda acordada por onde nos guiarmos: os ODS!

Na verdade, se queremos mesmo promover o desenvolvimento sustentável, precisamos de métricas (como o SDG Score) que capturem o impacto positivo e negativo das empresas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

 

(Ainda sobre este tema, não perca o próximo evento que vamos organizar neste tópico com uma das maiores empresas tecnológicas do nosso país e descubra como “têm vindo a traçar o seu caminho de implementação dos ODS no core do seu negócio”)

 

Filipa Pires de Almeida, Docente na CATÓLICA-LISBON