O “Lobo de Wall Street” e a saúde mental

CATÓLICA-LISBON
Sexta, Outubro 13, 2023 - 08:45

A Organização Mundial de Saúde reporta que, globalmente, 300 milhões de pessoas sofrem de depressão e 260 milhões de ansiedade, e prevê que, em 2030, a depressão seja a principal causa de doenças no mundo. Mas por que é que isto é relevante para a sustentabilidade e, em particular, para as empresas?

Sempre que penso em Bolsas, sou invadido por imagens de Leonardo di Caprio, no seu papel de Jordan Belfort, no filme “O Lobo de Wall Street”. Esta obra do cinema, que conquistou 5 óscares, incluindo o de melhor ator é, na realidade, muito mais do que puro entretenimento. Baseada no livro de memórias de um corretor da Bolsa de Wall Street que fez o seu caminho de baixo até ao topo do mundo financeiro, com o nome da personagem, ela procura retratar um cenário, real, de excessos e compulsões que o conduziram a uma situação de profunda insanidade mental.

Embora este seja um caso excessivo, é verdade que a pressão à qual estão sujeitas as pessoas que trabalham neste mundo das altas finanças vai além-fronteiras. E estes níveis de stress são, naturalmente, ingredientes ideais para o surgimento de diferentes níveis de doença mental. Desde a ansiedade a depressões profundas. Mas, infelizmente, esta realidade não é exclusiva deste setor.

Segundo um estudo publicado este ano pela Ordem dos Psicólogos, intitulado “O Custo dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”, estima-se que, em Inglaterra, 1 em cada 6 trabalhadores sofra de depressão, ansiedade ou problemas relacionados com o stress. E, se pusermos a lupa em Portugal, a estimativa, segundo o mesmo estudo, é de que 2 em cada 10 trabalhadores sofrem de problemas de saúde psicológica.

Mas se formos aos números absolutos, o cenário ainda se torna mais assustador. A Organização Mundial de Saúde reporta que, globalmente, 300 milhões de pessoas sofrem de depressão e 260 milhões de ansiedade, e prevê que, em 2030, a depressão seja a principal causa de doenças no mundo.

E porque é que isto é relevante para a sustentabilidade e, em particular, para as empresas? Parece evidente. As consequências diretamente decorrentes desta condição, como o absentismo, o presentismo ou a perda de produtividade, não só agravam a situação mental já complicada destas pessoas, que entram num círculo vicioso que afeta a qualidade de vida de milhões de famílias a vários níveis (financeiro, emocional, relacional e outros), como também significa um custo muito significativo e real nos resultados das empresas. Só em Inglaterra, estima-se em 35,25 biliões de libras por ano, o custo dos problemas de saúde psicológica relacionados com a falta de saúde mental, sendo 2/3 destes custos atribuídos à perda de produtividade. Estamos a falar de um impacto negativo no PIB de 4,1% (60,5 biliões de libras por ano).

Mas -pasme-se-, para muitas organizações, isto ainda não é evidência suficiente. Outro estudo, apresentado pelo Center for Responsible Business & Leadership da Católica-Lisbon em 2022, sobre o estado de arte da saúde mental nas organizações, com uma amostra de 54 empresas, em 16 setores diferentes, em Portugal, concluiu que: a promoção da saúde mental, no seio das suas organizações, não era uma prioridade para 7% dessas empresas; não era uma prioridade, mas sim uma preocupação para 39% das empresas; e 17% estavam a dar os primeiros passos. Ou seja, para quase 2/3 das empresas deste universo, este tópico ainda não estava nas suas prioridades.

Isto é ainda mais incompreensível, até de um ponto de vista de interesse próprio das organizações, se considerarmos que, por cada 1,17 € investidos em medidas para promover a saúde mental, existe um retorno médio de 6,11 € (estudo da Deloitte, publicado em 2022). Ou seja, a preocupação em colocar a saúde mental no topo da prioridade das empresas, não só é um “must do” do ponto de vista da performance social dos ESG, como é uma medida fundamental para o negócio. O que é que precisam de saber mais?

No Dia Internacional da Saúde Mental, que hoje se celebra, é caso para dizer que vivemos num mundo que cria lobos, mas que, no que toca a expulsar o lobo da nossa casa, ainda estamos na fase dos cordeiros, que andam em rebanho, à espera de alguém que lhes diga o que fazer. Há, no entanto, muitas e boas exceções e muito trabalho bem feito em Portugal. Em particular durante este mês de outubro e caso queiram saber mais, é só fazerem uma pesquisa online e estarem presentes em alguns eventos de empresas, que vão partilhar muitas das práticas que melhores resultados têm tido nesta matéria. Não será por falta de informação e inspiração que manteremos o lobo, ameaçador, à porta de casa.

Frederico Fezas Vital, Executive Director of Católica-Lisbon Yunus Social Innovation Center