Cinco lições de Donald Trump

CATÓLICA-LISBON
Sexta, Agosto 9, 2024 - 10:30

Que tem Donald Trump a ensinar aos líderes de hoje? Ele é político de topo mas, acima de tudo, criou um feito único na história: três anos após a derrota eleitoral, uma revolta falhada e arrastado e condenado em tribunais, é o favorito nas eleições do país mais exigente do mundo. Que podemos aprender com ele?

Primeiro está a profunda, intensa e inabalável autoconfiança. Trump tem sempre razão, nunca se engana, ganha sempre e sabe a solução de tudo. É herói e vítima, mesmo se vilão e culpado. No seu mundo de fantasia, a possibilidade de fracasso não existe; e sucesso gera sucesso, ainda se falso. Este traço vem-lhe do elemento central da personalidade: narcisismo patológico. O único assunto de Donald Trump é Donald Trump. Essa é a verdade; tudo o mais é falso. Isto é assim a tal grau que as pessoas normais interpretam a monomania de formas lisonjeiras, confundindo-a com doutrina, estratégia ou competência.

A segunda lição é pura notoriedade. Desde a juventude que Trump está debaixo dos holofotes. A imagem insólita de louro aberrante, só por si, chama a atenção. Dos divórcios e falências à apresentação de concursos e best-sellers, dos escândalos e problemas judiciais a opiniões controversas, os media não o largam. Além disso, tem o dom de dizer e fazer aquele grotesco irresistível para jornalista. Toda a gente conhece Trump há décadas, como Coca-cola, Disney, Torre Eiffel e pouco mais. No matagal da era da informação, reconhecimento é rei; as razões, boas ou más, não interessam.

O terceiro instrumento é o poder do medo. Trump é, antes de mais, um traficante de temor: temor dos democratas, imigrantes, China, sistema. Embora na política há muitos anos, ele é o eterno arrivista, exterior ao governo, atacando os poderosos odiados. Apesar de milionário, ex-presidente e candidato do partido do regime, consegue surgir como defensor do cidadão comum contra aqueles que mandam. Em todas as épocas, os descontentes são sempre um eleitorado poderoso e dedicado; isso toma proporções avassaladoras em épocas de transformação socioeconómica, onde até os instalados temem pelo futuro. Não precisa de soluções pois, desde Pisístrato e Catilina que os populistas sabem que, para ter apoio, basta repetir agravos e receios, reais ou fictícios, que o povo sente.

A quarta estratégia é, finalmente, ideológica. Trump não tem doutrina, plano ou propostas. Não é tradicionalista, conservador, nacionalista, libertário, fascista ou sequer populista e protecionista. Talvez um dia o trumpismo se defina, mas o criador é apenas um presunçoso que confia supinamente no ímpeto do momento. O seu único elemento substancial é o apelo ao instinto congénito, telúrico da rebeldia. Desafia regras, convenções, boas maneiras, a própria decência. Faz o que quer e faz-nos sentir livres de exigências e normas.

Tal como na Revolução Francesa contra o Antigo Regime, ou no modernismo anti Vitoriano, o movimento MAGA proclama a rebeldia contra o moralismo dominante. Porque, apesar de toda a retórica subversiva, o nosso tempo é muito beato; beato do ambientalismo, igualitarismo, anti sexismo, anti xenofobia, anti-homofóbica, etc, etc. Com excelentes razões, os sermões dos sumos-sacerdotes da cultura censuram tradições, hábitos, desejos e até pronomes. Só Trump está imune a esses remoques, sendo o politicamente incorreto por excelência.

Estas lições podem ser utilizadas por qualquer um. O poder da arrogância, publicidade, medo e capricho são bem conhecidos, sendo Trump um bom caso de estudo. Só que tais métodos nunca dão mais que resultados efémeros, sem sucesso duradouro. Isso significa que a dinâmica deste movimento depende crucialmente do quinto ponto: a época doentia em que surge. A sociedade americana está disfuncional, exaltada, desorientada, radicalmente dividida e incapaz de diálogo e consenso. Esta circunstância, rara em termos históricos, torna as lições anteriores demasiado idiossincráticas para serem replicadas. Isso significa que, antes de tudo, Trump é sintoma, mais que doença.