How many people work there? Half of those there

CATÓLICA-LISBON
Wednesday, July 24, 2024 - 09:15

Content in Portuguese.

Acredito que a semana dos quatro dias de trabalho está a chegar e será uma realidade em alguns anos. Até lá, será um fator diferenciador das empresas, uma estratégia de "employer branding", no desafio de captar e reter o melhor talento.

Apesar de já se falar há alguns anos, saíram recentemente os resultados de um estudo-piloto sobre a eficácia dos 4 dias de trabalho em Portugal. Neste estudo a maioria das empresas decidiu manter esta nova forma de organização do trabalho na empresa. Foi a produtividade que ganhou? Tenho dúvidas…

Acredito que será uma medida que aos poucos se vá instalando no nosso tecido empresarial, porque os 2 grandes decisores (pessoas e empresas) vão querer que se instale.

As pessoas preferem trabalhar 4 dias?

Teoricamente, sim. Trabalhar 4 dias por semana dá a todos a sensação de maior equilíbrio, mais tempo disponível.

Cada vez mais as pessoas preferem trabalhos que lhes dá flexibilidade e medidas como o trabalho remoto (e mais ainda modelos de trabalho híbrido) são valorizados pelas pessoas.

Trabalhar 4 dias por semana, por muito que se ouça “eu já trabalho mais do que 5 dias!” e “estou sempre contactável…”, se perguntarmos às pessoas se preferem, a resposta será quase unânime em como preferem.

E por que é que as empresas preferem?

As empresas podem vir (ainda não amplamente estudado) a ter benefícios de produtividade. Mas mesmo que não tenham benefícios de produtividade (mesmo que a produtividade seja igual, ou inferior em termos absolutos), as empresas têm um grande desafio hoje em dia que é o de atrair e reter talento.

Enquanto apenas algumas empresas adotarem esta medida, será um fator diferenciador para captar as melhores pessoas. Vemos, hoje em dia, as empresas a gastarem milhares de Euros em employer branding (muitas vezes, muito mal gasto em puffs e maçãs na recepção – ninguém decide ficar numa empresa porque há puffs e maçãs na recepção!).

A falta de pessoas fará com que as empresas, além do salário que será sempre um fator diferenciador, ofereçam outros benefícios entre os quais se incluirá os 4 dias de trabalho.

Serve a todos?

Não. Tal como se discute hoje em dia que o trabalho remoto não é ajustado para todas as funções. E não é. Um médico não faz a cirurgia em casa, tal como a cabeleireira não corta cabelos à distância.

O facto de não ser ajustado a todas as funções ou a todos os dias, não quer dizer que não se faça nas funções em que é possível. É uma forma de diferenciar as empresas que permitem esta flexibilidade.

Tal como a semana de 4 dias. Em empresas, mesmo as que trabalham por turnos, desde que seja possível conciliar os horários, é possível implementar. Mesmo no caso de uma creche, que aparentemente não seria possível ter apenas 4 dias (exemplo que no projeto piloto voltou para os 5 dias), acredito que um dia mais tarde, em que seja massivamente implementada a medida dos 4 dias, as/os educadores e auxiliares possam ser menos diariamente, pois também as crianças não irão 5 dias à creche (mas apenas 4 dias) - menos crianças diariamente, implica turmas mais pequenas e disponibilização de funcionários para o dia de folga.

Mesmo assim, haverá funções em que não será mesmo possível. Será um fator de injustiça principalmente e quanto mais pequenas forem as empresas.

Já hoje em dia temos mais de 90% de microempresas, que muitas vezes são auto-emprego – muitas das quais pagaram pelo seu posto de trabalho – com investimento inicial - e já hoje em dia vemos estes trabalhadores que para garantirem um nível de salário médio, trabalham mais de 8 horas por dia. Tal como não será possível trabalharem 8 horas por dia, será impensável fazerem os 4 dias por semana. Sim. É injusto mas não parece preocupar ninguém.

E no futuro?

No futuro, tal como no passado conseguimos implementar as 8 horas por dia (apesar de inicialmente não se acreditar que era possível, apesar de serem necessárias manifestações, apesar de serem necessárias reinvindicações), vamos implementar os 4 dias de trabalho, desta vez (e desejavelmente) não tanto por reivindicações, mas porque todos preferem que assim seja – empresas e funcionários.

Rute Xavier, Professor da CATÓLICA-LISBON