A sociedade está em constante mudança e os avanços da tecnologia são frenéticos. O acesso facilitado à informação, nem sempre rigorosa, molda comportamentos e gera expectativas.

Formar cidadãos críticos torna-se, assim, um desafio permanente: a missão do professor vai além de ensinar conteúdos, é também inspirar e orientar futuros. Estará a formação contínua à altura deste desafio?

A tecnologia evolui a um ritmo impaciente e imprevisível. A inteligência artificial ganha cada vez mais espaço nas pequenas e grandes tarefas do quotidiano, tanto a nível pessoal como profissional. A informação é facilmente acessível e está sempre disponível. As redes sociais passaram a ocupar o que, outrora, era definido como lazer, e ganharam espaço para serem, também, uma ferramenta.

Não há como negar: o excesso de informação, válida ou não, chega até aos estudantes com muita facilidade, influenciando não só comportamentos, como formas de aprendizagem e, até, expetativas sobre o próprio percurso académico.

O papel dos professores universitários vai muito além da formação de profissionais competentes. António Nóvoa, numa entrevista à Revista Docência do Ensino Superior, afirmou que “não se trata apenas de dar boas aulas, mas de conseguir construir, com os alunos, percursos sólidos de formação”. A sua missão é também social: contribuir para a construção de um mundo mais sustentável (ver, por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).

O professor fica assim com um papel extremamente desafiante: formar cidadãos ativos, críticos e responsáveis, preparando-os para um futuro incerto, e, simultaneamente, inspirar percursos de aprendizagem transformadores. É necessário gerir a forma como os estudantes são moldados pelo que os rodeia, equilibrando a pressão da inovação tecnológica, as exigências pedagógicas e os novos perfis de aprendizagem.

Ser professor é, por isso, muito mais do que transmitir conteúdos. É assumir um compromisso com a sociedade. Um compromisso que não é formalmente declarado, mas que se traduz na responsabilidade de formar pessoas capazes de pensar criticamente e agir de forma responsável.

A formação contínua dos professores é decisiva para responder a esses desafios. Mas como pode, de facto, fortalecer esta missão? E de que forma pode ser eficaz e ajustada ao contexto do ensino superior? O professor é, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “aquele que ensina uma arte, uma actividade, uma ciência, uma língua; aquele que transmite conhecimentos ou ensinamentos a outrem”. É indiscutível que deve dominar o conteúdo que ensina, o que pode ser aprofundado em formações académicas, conferências, publicações e grupos de investigação.

Porém, não basta dominar o conteúdo. É igualmente necessário desenvolver competências pedagógicas que permitam apoiar os estudantes na construção da sua própria aprendizagem. Este desenvolvimento, no entanto, é menos visível, mais difícil de aceder e, muitas vezes, menos valorizado. A formação contínua tem aqui um papel fundamental: tornar explícitas as dimensões pedagógicas da profissão e valorizá-las como parte integrante da identidade do professor universitário. Segundo o Global Education Monitoring Report 2023 da UNESCO, ambientes educacionais nos quais os professores dispõem de autonomia profissional, colaboração institucional e apoio para inovação pedagógica são indispensáveis para enfrentar os desafios do século XXI, promover aprendizagens significativas e preparar cidadãos críticos.

Existem várias estratégias que podem ser promovidas no ensino superior: observação de aulas com feedback construtivo, uso de diários reflexivos, cursos, oficinas, workshops, webinars, ou comunidades de prática. Estas experiências permitem desenvolver várias capacidades essenciais, tais como a diversificação de diferentes metodologias de ensino, a integração de tecnologias digitais (incluindo a inteligência artificial!), o desenvolvimento de competências pedagógicas e de competências relacionais e comunicacionais, ou a reflexão contínua sobre a própria prática.

Ao investir nessas dimensões, o professor não só enriquece a sua prática, como reforça a sua identidade profissional e prepara-se para os desafios emergentes. Ao preparar cidadãos críticos, criativos e responsáveis, os docentes participam ativamente na transformação da sociedade.

Em Portugal, várias universidades têm já investido em programas estruturados de formação pedagógica contínua para o seu corpo docente – tal como a Universidade de Aveiro, a Universidade de Lisboa ou a Universidade Católica Portuguesa – recorrendo a equipas especializadas que promovem o desenvolvimento profissional e a partilha de boas práticas. Este é um caminho que merece ser valorizado e ampliado, pois demonstra um compromisso com a qualidade do ensino e com a preparação de docentes para os desafios do presente e do futuro.

Investir na formação contínua é, assim, investir não apenas na qualidade do ensino superior, mas também no futuro coletivo. Cada professor que se atualiza, reflete e renova a sua prática, fortalece o seu papel de orientador e inspira estudantes a transformar conhecimento em ações responsáveis, críticas e inovadoras.

Ser professor universitário é, acima de tudo, inspirar futuros. A formação contínua não deve ser entendida como uma obrigação, mas como uma oportunidade de crescimento, melhoria, renovação e afirmação da identidade profissional.

Num mundo em constante mudança, é através de formação contínua que os professores se mantêm atualizados, criativos e confiantes no seu papel na universidade e na sociedade. Mais do que ensinar conteúdos, importa construir percursos de aprendizagem que transformem vidas e o futuro da sociedade.

Micaela Martins, Learning and Innovation Specialist da CATÓLICA-LISBON