Apesar da China se constituir hoje como a segunda maior potência económica mundial, afirmando-se nos mais variados domínios setoriais, não só pela sua capacidade de produção, de financiamento, mas também de inovação, com a introdução de um significativo número de marcas que são bem-sucedidas à escala mundial, as notícias sobre projeções futuras não são tão animadoras.

Segundo o FMI, a economia chinesa deverá crescer 5% em 2024, num momento em que gere uma crise imobiliária e respetivos efeitos em cascata sobre investidores, consumidores e empresas. Nesse contexto, prevê-se que o crescimento baixe para 3,3% até 2029, não só devido a um crescimento mais parco da produtividade, mas acima de tudo pelo envelhecimento da população. Já agora, não esqueçamos que a Índia, país vizinho, cresce a olhos vistos em termos de PIB (8,2%), a par de já representar o país mais populoso do mundo.

Este retrato suscita da parte da China a necessidade de defender a sua posição competitiva em setores considerados verdadeiramente estratégicos, como é o caso da inteligência artificial. O sucesso da NVidia, empresa taiwanesa e também sua vizinha, com o desenvolvimento dos chips que abastecem as grandes marcas globais na lógica da atividade da inteligência artificial, constitui um mau prenúncio para a economia chinesa, por duas ordens de razão:

  • o grau de penetração das soluções da NVidia no mercado chinês aumentou meteoricamente, porque abastecem algumas das suas empresas mais relevantes (Bytedance, que detém o TikTok e a Tencent, uma das empresas mais lucrativas do mundo);
  • o desempenho superior da NVidia face às alternativas internas, como a Yangtze.
     

Assim, duas das maiores fabricantes de chips para inteligência artificial da China (Shanghai Enflame Technology e Shanghai Biren Intelligent Technology) ganharão protagonismo nos próximos tempos, uma vez que personalizarão o bloco forte das empresas locais nesta guerra pelo futuro.

Não é por acaso que vemos o índice Nasdaq e as grandes tecnológicas atingir a sua valorização mais alta em bolsa nos últimos meses. O crescimento de soluções comerciais de inteligência artificial justifica uma cada vez maior competitividade no preço, aliado à sua maior acessibilidade, performance e aumento da eficácia.

É também nesse sentido, que soluções alternativas podem vir a lutar pelo protagonismo e liderança mundial, a curto prazo. A Palantir, que quintuplicou a sua valorização no último ano é um desses grandes protagonistas. Basta consultar a sua página online para lermos artigos que a colocam como a número um na área da inteligência artificial, data science e machine learning. A grande questão é que a Palantir é norte-americana e especializada em serviços tecnológicos relacionados com o governo dos EUA.

É, pois, muito provável, que encontremos aqui um dos próximos confrontos Oriente- Ocidente pelo poder económico e tecnológico a nível mundial, sendo certo que o tema da segurança dos utilizadores será determinante para o êxito.

É exatamente por causa destes desenvolvimentos que a inteligência artificial muito rapidamente deixará ser um tema exclusivamente económico e tecnológico, para se constituir como uma verdadeira arma política. Disso não tratará este artigo nem nenhum da minha autoria.

Basta estar atento aos últimos discursos de Elon Musk para se compreender a interseção dos temas.

Pedro Celeste, Professor da CATÓLICA-LISBON