O que deve ter um líder

50 Years
Sexta, Novembro 25, 2022 - 15:15

Relatório: temos bons dirigentes? Há uma resposta sustentada no estudo “Liderança Responsável. Em que consiste e que caminho para Portugal”. E o que pensam os trabalhadores? Empatia e ética são as qualidades mais exigidas a quem manda

Empatia, liderar pelo exemplo, adaptabilidade, ética, ser fonte de inspiração. Estas são as cinco qualidades que os trabalhadores portugueses mais valorizam num líder empresarial. Foram as prioridades aferidas por um estudo realizado pela Católica-Lisbon sobre o tema “Liderança Responsável. Em que consiste e que caminho para Portugal”. A celebrar 50 anos, e numa altura em que os temas da agenda mediática são as alterações climáticas e a sustentabilidade ambiental das empresas, a instituição levou a cabo um projeto de investigação cujas conclusões expõem a importância da liderança como fator essencial para um melhor equilíbrio entre rentabilidade e responsabilidade social.

Num tempo em que os custos se assumem como as principais barreiras à implementação de líderes e políticas empresariais responsáveis, o estudo realizado ao longo do último ano, entre Portugal e EUA, sublinha que as “empresas sem propósito e valores, onde a única preocupação é a rentabilidade, correm o risco de não ter sucesso a longo prazo”. “A consciência do papel das lideranças, que mobilizam recursos, fazem o mundo avançar”, introduziu Filipe Santos, diretor da Católica Lisbon School of Business & Economics, que abriu a sessão de ontem, quinta-feira.

Isabel Ucha, presidente do Conselho de Administração da Euronext Lisbon, destaca três números: 70% dos cidadãos esperam que os líderes tomem ações dedicadas ao aquecimento global. Talvez isto explique as recentes manifestações ocorridas em Lisboa por parte dos estudantes universitários. Mas não só: “78% querem ver tratadas as desigualdades salariais e a distribuição da riqueza”, afirmou. “Estes números espelham o que se espera dos líderes empresariais. É uma transformação, uma exigência e um compromisso que vai muito além da gestão do negócio no dia a dia. Abrange uma responsabilidade com a sociedade, a comunidade, até a comunidade política, inclusive. Além disso, os barómetros mostram que 50% dos inquiridos não confiam nos Governos mas 70% confiam nas empresas.”

Vivemos num mundo de desafios, e o que propõe o trabalho é “um melhor entendimento” e “rigor científico” de liderança responsável. “Fizemos uma revisão da literatura muito extensa, entrevistámos centenas de líderes durante o ano, de modo a perceber o que se está a fazer bem e mal dentro das empresas. Queremos uma sociedade com empresas e líderes responsáveis”, explicou Nuno Moreira da Cruz, diretor-executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica-Lisbon, um dos autores do estudo, que pretende “identificar as características diferenciadoras da liderança responsável comparativamente a outros estilos de liderança”.

Apesar de também ter focado a realidade americana, o trabalho foi conduzido em Portugal. E, referem os autores, até hoje realizaram-se apenas dois documentos semelhantes sobre a realidade do país. O resultado das duas amostras — uma portuguesa, outra americana — são semelhantes. A grande diferença entre os dois países? A amostra portuguesa dá mais importância aos líderes, enquanto a americana foca-se mais nos colaboradores. A professora Francisca Saldanha, investigadora principal do estudo, acrescenta que os líderes responsáveis têm como características “fazer diferente, serem exemplos, terem o foco em eliminar barreiras e criar facilitadores”.

Os participantes identificaram aspetos que tornam mais simples a adoção de uma liderança responsável. A estes fatores Nuno Moreira da Cruz acrescenta o facto de hoje vivermos numa sociedade bem mais exigente, na qual as empresas não podem apenas focar-se no lucro. “A barreira financeira é muito mencionada, mas não parece ser o caminho para uma liderança responsável, uma liderança do futuro.”

João Pedro Tavares, presidente da Associação Cristã de Empresários, acredita mesmo na importância dos líderes que o fazem pelo exemplo, “pessoas que ensinam a saber fazer e ser”, que competem consigo mesmos: “Um líder responsável é mais feliz quando tem um sentido de missão. Somos muito mais do que cargos; os cargos são a coisa mais transitória da vida.”

NÚMEROS DO ESTUDO

29 é a percentagem de trabalhadores que se encontram na mesma organização durante um período entre 10 e 20 anos

5 é o número de competências mais valorizadas nos inquiridos sobre liderança: empatia, ética, responsabilidade, honestidade e adaptabilidade

36,6 é a percentagem de inquiridos que trabalham nos serviços. Segundo sector mais referido: tecnologias de informação, representando 27,9% da amostra portuguesa

FRASES DO EVENTO

“A incerteza faz parte da liderança responsável. O mundo muda todos os dias, o que torna a gestão cada vez mais difícil. Numa organização são precisos vários líderes”

Ricardo Pires
CEO Semapa

“Números [do estudo] espelham o que se espera dos líderes empresariais. Uma transformação, uma exigência e um compromisso que vai muito além da gestão do negócio no dia a dia”

Isabel Ucha
Presidente do Conselho de Administração da Euronext Lisbon

“Há uma sociedade cada vez mais exigente. As empresas que se preocupam apenas com a gestão financeira podem ter problemas. Sem lucro não há preocupações ambientais, mas o inverso também é verdade”

Nuno Moreira da Cruz
Diretor-executivo da Católica-Lisbon