Inicio este artigo com dois dados que criam contexto:
- Segundo o World Economic Forum, 44% das competências-chave dos trabalhadores vão mudar até 2030, o que significa que, para executivos, a mensagem é simples e dura: o que funcionou ontem não garante relevância amanhã, vivemos numa era em que o prazo de validade das competências de liderança encolheu drasticamente.
- De acordo com outro estudo recente (Mckinsey), as organizações que investem de forma consistente no desenvolvimento dos seus líderes apresentam 21% mais rentabilidade e 17% maior produtividade.
Por outras palavras, a formação executiva deixou de ser um benefício “nice to have”, tornou-se um ativo estratégico, e que me leva a tentar elencar aquelas que vejo como as grandes tendências globais em Formação Executiva.
Em primeiro lugar, creio que assistiremos cada vez mais a uma aprendizagem modular, híbrida e contínua, onde programas longos e rígidos estão a perder tração. Os Executivos procuram formações curtas, de aplicação imediata, e combinando presencial com digital - o formato híbrido já representa mais de 60% da oferta executiva nas principais business schools.
Por outro lado, assiste-se ao fenómeno da IA e novas tecnologias que deixaram de ser “temas” para passar a ser competências base. Mais de 70% dos CEOs afirmam que a IA vai transformar radicalmente o seu modelo de negócio nos próximos 3 anos, mas apenas 1 em cada 4 sente que a sua organização está preparada. A formação executiva está a responder com programas de IA aplicados à decisão, operações, marketing, finanças e liderança — não para técnicos, mas para gestores.
Em terceiro lugar creio que se pode afirmar que a liderança humana como um fator diferenciador e gerador de valor se impõe cada vez mais. Empresas com líderes fortes em competências humanas (empatia, comunicação, gestão da mudança) apresentam retenção de talento até 30% superior. Num mundo de automação, a liderança humana passou a ser uma vantagem competitiva mensurável.
A aprendizagem aplicada a problemas reais afirma-se como uma outra tendência incontornável, os executivos já não aceitam formação sem impacto imediato. Programas baseados em action learning e projetos reais têm taxas de aplicação no negócio acima de 70%, face a menos de 30% em modelos tradicionais baseados apenas em sala de aula.
Neste contexto, as business schools enfrentam uma escolha clara: liderar ou… serem irrelevantes. Acredito profundamente que o seu papel já não é apenas transmitir conhecimento, mas sim orquestrar transformação e admito que estejam a evoluir em três dimensões críticas:
a) De fornecedoras de cursos para parceiras estratégicas das organizações
Empresas exigem soluções desenhadas à medida, alinhadas com os seus desafios estratégicos, o que significa que a formação executiva eficaz começa com diagnóstico e termina com medição de impacto. As melhores business schools já ligam aprendizagem a KPIs de negócio: crescimento, eficiência, inovação, cultura. Diria que a Formação sem métricas deixou de ser aceitável.
b) De programas isolados para ecossistemas de aprendizagem contínua
Alumni networks, comunidades de prática, sessões de follow-up e plataformas digitais tornaram-se essenciais para garantir o esforço de aprendizagem contínua. Longe vai o tempo em que tudo se passava dentro da sala de aula…
c) De foco local para redes globais
Exposição internacional, parcerias entre escolas e contacto com diferentes realidades empresariais ampliam a visão estratégica, sendo certo que hoje, mais de 50% dos executivos valorizam programas com experiência internacional integrada.
Como conclusão diria que num mundo de volatilidade permanente, a verdadeira vantagem competitiva não é a tecnologia — é a capacidade de as lideranças aprenderem mais depressa do que a mudança. A formação executiva do futuro é transformacional, aplicada, tecnológica e profundamente humana e as business schools que compreenderem isto não formarão apenas melhores gestores — ajudarão a construir organizações mais resilientes, responsáveis e competitivas.
Nuno Moreira da Cruz, Dean for Executive Education na CATÓLICA-LISBON