São várias as ameaças a pairar sobre a zona euro. A Alemanha já está em recessão enquanto o BCE tenta uma aterragem suave. Irá conseguir

SIM, há esse risco. A probabilidade de recessão na zona euro é baixa, mas o cenário central é de um crescimento 1,3% no próximo ano. Diversos fatores interligados contribuem para este cenário modesto e de incerteza. A política monetária restritiva dos bancos centrais, embora tenha sido eficaz no combate à inflação, tem desacelerado a atividade económica. Ainda assim com o sucesso óbvio de não ter provocado nenhuma recessão ou aumentado o desemprego e correspondendo ao cenário estabelecido pelas autoridades monetárias de uma aterragem suave das economias.

A pujança da economia americana é maior e no caso da Europa a ausência de dinamismo da Alemanha é fator de crescente preocupação. De igual modo, em França, o Governo irá adotar medidas de ajustamento orçamental que se refletirão negativamente na atividade económica. O único país da zona euro com margem orçamental para estimular a economia é a Alemanha, mas aparentemente isso não faz parte da sua estratégia económica.

A perspetiva de um crescimento modesto torna a Europa vulnerável a qualquer choque

Paradoxalmente, uma das principais razões com a perceção do risco de recessão na Europa é a aparente velocidade com que o Banco Central Europeu (BCE) quer descer as taxas de juro. O BCE parece ponderar descer as taxas de juro para valores inferiores a uma taxa neutra, isto é, aquela taxa de juro que não estimula nem contrai a economia. Isso só se justifica se o BCE temer uma recessão. O aparente sucesso no combate à inflação na zona euro não justificaria, por si só, uma descida tão rápida das taxas de juro.

As instituições internacionais têm vindo a baixar as perspetivas de crescimento mundial para o próximo ano, incluindo a China. Em parte, devido à possibilidade que os governos de vários países relevantes estejam crescentemente abertos a adotar medidas protecionistas. O risco do protecionismo é, aliás, exacerbado pela incerteza sobre o resultado das eleições americanas e do aprofundar da guerra comercial entre os EUA e a China. Que, por sua vez, poderia prejudicar também as economias europeias com maior potencial exportador. E em geral travar a economia mundial como um todo.

É cedo para dizer se 2025 será um ano de recessão na Europa. As recessões são suficientemente infrequentes para ser arriscado prevê-las com um ano de antecedência, nomeadamente quando os indicadores quantitativos não o justificam. A perspetiva de um crescimento modesto torna a Europa vulnerável a qualquer choque. O mais importante é continuar a monitorizar a evolução da economia da zona euro com atenção particular a aumentos bruscos no desemprego.
Professor da Católica Lisbon School of Business & Economics, Universidade Católica Portuguesa

NÃO A economia europeia quase estagnou após a invasão da Ucrânia, e subsequente espiral inflacionista e subida das taxas de juro. Numa fase inicial, esta performance foi acima das expectativas de recessão. A resiliência do mercado de trabalho, a recuperação dos serviços (em particular o turismo), e política orçamental expansionista contribuíram para que o choque não tenha sido tão severo.

Ultimamente, a economia europeia tem desiludido, apesar de alguns sinais mais encorajadores nos dados do PIB publicados esta semana, para o terceiro trimestre de 2024. Há a considerar o desfasamento normal da política monetária, pois demora até que as alterações dos juros afetem a economia real. Mas a continuação da crise industrial e cautela por parte das famílias também contribuíram para esta situação.

Este enquadramento é importante para discutir as perspetivas para 2025. Descidas rápidas dos juros irão reduzir os incentivos à poupança e tornar o crédito mais barato. Juntamente com melhoria da confiança dos consumidores e nos salários reais, continua a haver razões para esperar crescimento razoável do consumo em 2025. Pressões estruturais continuarão a afetar a indústria, como custos energéticos relativamente altos e aumento da competição internacional. Mas mesmo aqui, há razões para esperar alguma melhoria em 2025, por via do restocking que irá beneficiar a produção industrial. Por fim, enquanto que a economia global continuará num ritmo modesto, o crescimento não deverá piorar em 2025, mantendo-se estável perto dos 3%.

Esperamos que o PIB da zona euro cresça 1,2% beneficiando do da descida dos juros

Desta forma, na Oxford Economics acreditamos que o crescimento da zona euro melhore em 2025, para 1.2% após 0.8% em 2024, com nova subida em 2026 para 1.5%. Não é espetacular, principalmente após a recente frace performance, mas ainda assim, confortavelmente melhor que o cenário de recessão, a que atribuímos baixa probabilidade.

O que nos faria reconsiderar a nossa posição? Uma deterioração severa do mercado de trabalho seria preocupante. Mas enquanto que há sinais claros que o emprego está a arrefecer, o conjunto dos indicadores não sugerem subida pronunciada da taxa de desemprego. Riscos geopolíticos também continuam presentes, e há a possível vitória de Trump nos EUA. Porém no último caso, os efeitos negativos seriam mais significativos a prazo dado que levará algum tempo até que novas tarifas possam ser aplicadas. Em conclusão, estamos confortáveis com o nosso otimismo cauteloso para o próximo ano.

João Borges de Assunção, Professor da CATÓLICA-LISBON