Um estudo do Centro de Estudos Aplicados da CATÓLICA-LISBON e da Implement Consulting Group, desenvolvido para a Google, estima que a Inteligência Artificial (IA) Generativa tem potencial significativo para aumentar a produtividade da Administração Pública em Portugal, com um impacto estimado de 9% ao fim de uma década, o que representa uma contribuição anual de 1,2 mil milhões de euros no PIB português.

As conclusões do estudo, intitulado “The IA opportunity for eGovernement in Portugal”, foram apresentadas na passada quinta-feira, 23 de outubro, no Auditório EY da CATÓLICA-LISBON, por João Confraria, professor da CATÓLICA-LISBON e autor do estudo, e Sofia Marta, Country Manager da Google Cloud Portugal, num evento que contou com a presença de representantes do SPMS Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.

O estudo tem como objetivo avaliar a oportunidade económica da implementação da IA Generativa na Administração Pública e definir uma estratégia para escalar os seus benefícios em todas as instituições governamentais. A aplicação desta tecnologia no setor público, como defende o estudo, pretende repensar organizações e processos de forma a tornar os serviços públicos mais eficientes, transparentes e centrados nas pessoas, facilitando a interação de cidadãos e empresas com o Estado, de forma mais rápida, simples e com menos custos.

Embora ainda numa fase inicial, a Administração Pública portuguesa já começou a integrar a IA generativa nos seus processos, com mais de metade dos trabalhadores inquiridos no estudo a afirmar que já utiliza ferramentas deste tipo. O estudo estima, contudo, que o seu potencial podia ser mais explorado. Uma das conclusões revela que cerca de 66% dos funcionários públicos o equivalente a 200 mil pessoas, poderiam ver as suas tarefas diárias otimizadas, libertando tempo para atividades de maior valor acrescentado, como o atendimento ao público e a resolução de problemas complexos.

Os benefícios da IA estendem-se também ao tecido empresarial, uma vez que a tecnologia pode reduzir significativamente a burocracia governamental, um dos principais entraves à atividade económica. As melhorias poderão sentir-se, por exemplo, na simplificação das candidaturas a contratos públicos, na obtenção de licenças e na automação de relatórios obrigatórios.

Apesar desse potencial, o estudo identifica cinco barreiras estruturais que continuam a dificultar a adoção da IA na Administração Pública: a fragmentação da decisão e a proliferação de projetos isolados sem escala; o receio de infringir regulamentos, nomeadamente o RGPD; a incerteza regulatória sobre o uso da cloud; o risco de dependência tecnológica face a fornecedores únicos; e a falta de foco no impacto direto no cidadão, que poderá comprometer o apoio público às iniciativas.

Para ultrapassar estes desafios, o relatório propõe que o Governo adote uma abordagem faseada e estratégica, começando por aplicações internas e de baixo risco, que representam cerca de 20% do potencial total, antes de avançar para serviços mais complexos e voltados para o exterior. Em paralelo, recomenda duas medidas estruturantes: criar clareza sobre a utilização da cloud, através de um quadro regulatório

unificado e seguro, e adotar critérios de contratação tecnológica mais inteligentes, que assegurem interoperabilidade, padrões abertos e evitem a dependência de um único fornecedor.

Segundo o estudo, esta abordagem pragmática permitirá construir uma base sólida para uma transformação digital sustentável, mitigando riscos e assegurando que os ganhos da IA Generativa se traduzem em maior eficiência, inovação e valor público a longo prazo.

Para Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, as conclusões deste estudo representam uma oportunidade decisiva para repensar a eficiência do setor público num contexto económico e social particularmente exigente. O Dean sublinha que, apesar de o setor público não enfrentar a mesma pressão competitiva que o setor privado, o seu potencial de transformação é imenso e não deve ser desperdiçado: “O setor público, pela sua natureza, não vive sob a lógica do ‘adotar ou morrer’ que caracteriza muitas empresas privadas, mas isso não significa que possa ficar para trás. Numa altura em que enfrentamos uma equação difícil, marcada por uma carga fiscal elevada, pelo envelhecimento da população e pelas novas exigências de defesa, a IA surge como uma oportunidade única para reequilibrar as contas públicas e construir um Estado mais sustentável e eficiente”.

Consulte o estudo na íntegra aqui.