No passado dia 8 de novembro, a CATÓLICA-LISBON, através do Yunus Social Innovation Center – o primeiro centro de inovação social em Portugal –, organizou a sua primeira Topic Talk, dedicada ao tema "Challenges and Opportunities of Ageing and Longevity". O evento explorou o impacto do envelhecimento e da longevidade na sociedade, sublinhando o papel essencial da inovação social na criação de soluções sustentáveis para os desafios demográficos.

“Um dos pilares importantes do Centro de Investigação é a transferência de conhecimento para a sociedade, para a comunidade, através da ativação de players que consideramos fundamentais," afirmou Frederico Fezas Vital, Diretor Executivo do Yunus Social Innovation Center. Esta visão reflete o compromisso da CATÓLICA-LISBON em liderar o diálogo sobre questões cruciais como a longevidade e o envelhecimento, promovendo a ligação entre o conhecimento académico e as necessidades da sociedade, com o objetivo de gerar um impacto positivo e sustentável.

O evento contou com intervenções de Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, Frederico Fezas Vital e Céline Abecassis-Moedas, Diretora Académica do programa Longevity Leadership, que também liderou uma mesa-redonda que reuniu um painel de especialistas: Sérgio Serapião, cofundador da Labora Tech, Elena Durán, Fundadora da 55+, e Luís Jacob, Presidente da RUTIS. A sessão culminou com uma apresentação de Sérgio Serapião, que ilustrou como a tecnologia pode promover uma sociedade mais inclusiva.

Reflexões sobre o Envelhecimento e o Mercado de Trabalho

Durante a sua intervenção, Céline Abecassis-Moedas sublinhou o impacto social e económico do envelhecimento da população. Com base nos dados demográficos atuais, Céline argumentou que as pirâmides etárias, antes muito concentradas na juventude, estão agora a tornar-se mais equilibradas, com uma proporção crescente de pessoas com 65 ou mais anos. "Estamos a viver uma mudança demográfica global, que afeta tanto os países ocidentais como as nações asiáticas", afirmou. A mudança é já visível em Portugal, onde se prevê que a população sénior ultrapasse os 30% da população total num futuro próximo, estima.

A oradora destacou as oportunidades associadas ao envelhecimento da força de trabalho, referindo que a taxa de emprego dos trabalhadores entre os 55 e os 64 anos tem vindo a crescer. "Se olharmos para a taxa de emprego de trabalhadores mais velhos, vemos que é a faixa etária que mais cresce", comentou, destacando que, em Portugal, o aumento de trabalhadores mais velhos foi significativo, embora a taxa de empregabilidade nesta faixa etária ainda seja baixa comparada com a média da OCDE.

Apesar disso, alertou para a necessidade de uma maior adaptação no mercado laboral e na educação, com ênfase na aprendizagem ao longo da vida. "As universidades terão de repensar o seu papel na formação contínua, especialmente para os mais velhos", disse, referindo a importância de programas como MBAs direcionados a faixas etárias mais avançadas. A sua proposta para as escolas de negócios foi clara: "Devemos criar programas de MBA para pessoas com mais de 50 anos."

Esta opinião foi também partilhada pelos especialistas que estiveram presentes na mesa-redonda. Sérgio Serapião, cofundador do Labora Tech e líder da LAB60+, sublinhou a urgência de se mudar a cultura centrada nos jovens e a perceção tradicional da vida como uma sequência linear de três fases (estudo, trabalho e reforma). "A vida já não é mais trifásica. Tem pequenos ciclos que se vão reformular. Já não se estuda, trabalha e reforma de forma rígida. As pessoas agora vivem vários ciclos, com novas profissões e formas de trabalho".   

Relativamente às políticas públicas, Elena Durán, fundadora e Diretora Executiva da 55+, apontou a importância de tornar as  reformas mais flexíveis: "a reforma deve ser flexível, para que as pessoas possam continuar a contribuir, mas de forma adaptada às novas necessidades da sociedade". Elena também destacou a importância de combater o idadismo, promovendo o reskilling e iniciativas intergeracionais como podcasts e programas educativos, enfatizando  que a utilização de “ferramentas de comunicação, como podcasts, e o envolvimento de figuras públicas pode ajudar a colmatar o gap geracional”.

Já Luís Jacob, Presidente da RUTIS, apresentou uma análise crítica sobre o panorama atual em Portugal, enfatizando as lacunas existentes nas políticas públicas de saúde. O especialista revelou dados preocupantes sobre a longevidade e a saúde no país, sublinhando que, embora Portugal tenha uma esperança média de vida semelhante à da Suécia, os anos de vida saudável a após a reforma são significativamente inferiores: Enquanto nós temos, em média, 8 anos de vida saudável após a reforma, os suecos têm 16 anos."

Foi salientada a importância de integrar os mais velhos no mercado de trabalho e de adaptar as novas tecnologias às suas necessidades, identificando estas áreas como desafios urgentes. “As pessoas com maior nível de escolaridade têm mais facilidade em prolongar a sua participação no mercado de trabalho, enquanto as que têm menor escolaridade encaram a reforma de forma diferente”, observou o Presidente da RUTIS.

Um Caminho para a Inovação Social

"Nós falamos muito de longevidade, do tema da natalidade, e na combinação dos dois está a estrutura da população e o futuro de Portugal," concluiu Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, na sua intervenção final, sublinhando a importância estratégica de abordar estas questões de forma integrada.

Neste contexto, Filipe Santos anunciou a criação de um novo pacto mobilizador na área da longevidade e natalidade, a iniciar já no próximo ano, com o objetivo de preparar Portugal para o futuro. Este compromisso envolve a mobilização de vontades, organizações e influências para políticas públicas, bem como a partilha de práticas empresariais inovadoras e projetos de referência. "Há muito a fazer, e vamos fazê-lo, já a começar no próximo ano com a ajuda de todos," concluiu, reforçando a visão de uma sociedade mais inclusiva e preparada para os desafios demográficos.