Tenho de fazer uma confissão … tenho um vício. Enorme, que me consome sem cesso e me empurra por vezes para onde nunca sonhei ir. Que me desafia a procurar formas de o conseguir satisfazer, e que cresce cada vez que o faço. É um “travel bug”!
Fico nervosa se não tiver um bilhete de avião comprado. Sonho de noite com os próximos sítios onde hei-de ir. Passo horas que não tenho a estudar itinerários, hotéis, visitas…E, gravemente, cada vez que regresso de uma viagem, a vontade de voltar a sair é maior do que era antes.
Vou para onde me leva a vontade de descobrir. Normalmente com tudo planeado por mim, num diálogo que se prolonga noite fora entre o meu computador e eu, em sites que se abrem em catadupa e emails trocados com desconhecidos. Para destinos muitas vezes fora dos circuitos normais, em programas que envolvem muitas horas de viagem com muitas escalas para chegar onde quero ir.
Os dias antes de viajar são de ansiedade. Escolhi bem o voo? E o hotel, será que é como penso? Valerá a pena o esforço de lá chegar? E o transfer, marcado online com alguém que nunca vi e não me foi referenciado por ninguém… vai aparecer?
Mas mal chego ao aeroporto tudo acalma e fica apenas a trepidação da viagem e a expetativa do que vou encontrar. Muito destinos acertados, alguns flop total. A maioria dos hotéis bem escolhidos, mas já me enganei Mas nunca, até hoje, alguém que escolhi entre as várias opções que encontrei online só por feeling me deixou ficar mal. Lá está sempre o senhor com a placa com o meu nome à espera nas chegadas, umas vezes mais fácil de encontrar, outras com alguns momentos de suspense até o localizar, mas sempre aparecem!
O que também não falha nunca, de cada vez que estou para ir ou acabada de chegar, é uma reação quase unânime de espanto dos que me rodeiam.
“Mas como tens paciência?”
“Não te cansas nunca?”
“Porque vais para esses sítios esquisitos?”
“Só mesmo tu para escolheres um destino desses…”
Acredito que não seja fácil perceber que se façam mais de 50 horas de voo em duas semanas, que se passem mais de 30 horas em viagens de carro para percorrer poucos quilómetros, que se use o tempo escasso que temos para passear no meio da selva à procura de tigres, para ir ver aquele poço escavado há 300 anos, que se subam 800 metros em 4.5 km para ver aquele templo no cimo da montanha ou se façam saídas de barco à procura de leões marinhos ou iguanas.
E tenho dificuldade em explicar o que me move. Sei que é muita curiosidade, uma ânsia infinita de ver, comer e cheirar coisas novas, de falar com pessoas diferentes, de descobrir formas alternativas de viver, de ver mundos por vezes estranhos.
Sei também que é o saber que estar fora me dá um distanciamento da realidade do dia a dia que me permite relaxar e de facto descansar.
Sei que todos os quilómetros percorridos, sejam eles a pé, de carro, de barco, de avião, de camioneta, valeram a pena e me empurram para mais outros tantos.
Sei que sempre que volto me sinto mais rica e mais cheia com o que acumulo na cabeça.
Mas tenho dificuldade em contar as viagens, porque são sobretudo um acumular de sensações e descobertas que não se explicam e não se retratam nas (poucas, péssimas,) fotografias que tiro.
Desafio todos os que hesitam em sair, os que duvidam da maravilha que é a descoberta do desconhecido, dos que não sabem se o esforço para satisfazer a curiosidade é recompensado, a experimentar, pelo menos uma vez, partir fora de circuitos organizados e de destinos urbanos e seguros.
Acreditem… vale sempre a pena!
Rosário Pinto Correia, Professora da CATÓLICA-LISBON