Enquanto o mundo prepara-se para a 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que terá lugar em Sharm El-Sheikh, Egito, nas próximas semanas, é fulcral relembrar o que aconteceu desde a COP26 — e o que se pode esperar da próxima edição.

A COP26 decorreu em Glasglow há quase um ano. O evento terminou com a urgência de se acelerar a ação e o esforço coletivo para combater os impactos adversos das mudanças climáticas. Foi marcado também pela descrença e dúvida de muitos - especialmente das gerações mais jovens - sobre como as nações (e empresas) irão cumprir as promessas e os compromissos assumidos em novembro de 2021.

Em 2022, o sentido de urgência em torno da ação climática ainda nos assombra a todos. Desde eventos climáticos catastróficos, às crises humanitárias, passando pela crise energética causada pela invasão russa na Ucrânia, somadas a muitos outros desafios que a humanidade enfrenta, não podemos deixar de nos perguntar se a COP27 conseguirá reunir os líderes mundiais em torno de uma agenda comum para garantir a prosperidade planetária.

De acordo com a visão para a COP27, a conferência tem por objetivo “passar das negociações e do planeamento para a implementação". Os debates pretendem incluir discussões técnicas sobre como as nações devem agir em relação aos compromissos assumidos nos anos anteriores. Um dos debates é, por exemplo, sobre como as nações podem medir suas emissões e relatar o seu progresso. Essa é uma das discussões que abrirão caminho para o Global Stocktake que acontecerá na COP28, em 2023, para avaliar o progresso coletivo global em mitigação, adaptação e meios de implementação do Acordo de Paris.

A COP27 busca, portanto, aumentar ainda mais o escopo dos resultados em toda a agenda de ação climática. Alguns de seus objetivos são:

1. Avaliar como os países estão reduzindo as suas emissões e trabalhando para a mitigação.

Espera-se que os países mostrem como planeiam implementar O Pacto de Glasgow, rever os seus planos climáticos e criar um programa de trabalho relacionado com a mitigação de riscos. Isso também significa apresentar metas de emissões mais ambiciosas para 2030.

2. Avaliar como os países vão adaptar-se - e ajudar outros - a mitigar riscos.

Os eventos do último ano prepararam um cenário para negociações tensas. O mundo inteiro está a ser impactado pelas mudanças climáticas, em diferentes profundidades.  Algumas regiões são mais vulneráveis e possuem menos infraestruturas para lidar com as suas consequências, abrindo caminho para a crise humanitária.  Na COP27, espera-se que os países “capturem e avaliem o seu progresso para aumentar a resiliência” e ajudar as comunidades vulneráveis, o que exige compromissos mais detalhados e ambiciosos nos planos climáticos nacionais.  O secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que as decisões sobre “perdas e danos” devem ser tomadas nesta COP porque uma “falha em agir” pode causar “mais perda de confiança e mais danos climáticos”.  Perdas e danos referem-se ao financiamento de países desenvolvidos para compensar parcialmente os efeitos das mudanças climáticas nos países em desenvolvimento - mas até agora ainda está em debate como os países podem chegar a um acordo comum sobre como agir sobre esta questão. A COP27 só terá sucesso se puder definir claramente os planos de cooperação e ação para o futuro próximo.

 

 3. Avaliar como as nações mais desenvolvidas podem garantir o financiamento climático, uma vez que os países ainda não cumpriram a promessa de US$ 100 bilhões que foi feita para apoiar os países de baixa e média renda a construir a estrutura necessária para lidar com a crise climática.

Os tópicos de discussão incluem também as energias renováveis, o impacto da crise geopolítica, a intensificação dos “desastres naturais” e os danos e efeitos a longo prazo das alterações climáticas nos países e regiões mais vulneráveis.

A COP 27 surge num momento de profunda análise sobre o futuro da humanidade.

Conseguirá a COP 27 construir em cima das discussões que permaneceram abertas no ano passado — e dar-lhes uma solução baseada em soluções e planos concretos?

Poderá este evento ser o grande catalisador para a verdadeira mudança que tão desesperadamente esperamos?

Essas são algumas das principais questões que esperamos ver respondidas nas próximas semanas. 

 

Natália Cantarino, investigadora do CRBL