Quando nos perguntamos como estamos, as finanças pessoais são usualmente um assunto central. De acordo com um inquérito realizado pelo European Working Conditions (EWCS) em 2020, cerca de 44% dos trabalhadores europeus sofrem frequentemente de stress devido a questões financeiras, muitas vezes mais do que o stress relacionado com o trabalho. Além disso, cerca de 26% foram contactados por credores ou cobradores de dívidas. Uma gestão financeira eficaz não só melhora o risco de crédito dos indivíduos, como também aumenta a produtividade e contribui para uma economia mais saudável.

Apesar do interesse crescente no bem-estar financeiro por parte de académicos, decisores políticos, gestores financeiros e empregadores, a investigação sobre o que constitui exatamente o bem-estar financeiro e o seu papel na nossa felicidade geral tem sido limitada. O artigo científico de Daniel Fernandes, professor da CATÓLICA-LISBON, e dos seus colegas “How Am I Doing? Perceived Financial Well-Being, Its Potential Antecedents, and Its Relation to Overall Well-Being” visa colmatar esta lacuna, explorando a perceção de bem-estar financeiro e o seu impacto no bem-estar geral.

O que é o bem-estar financeiro?

O bem-estar financeiro não é apenas ter dinheiro no banco. Trata-se da forma como gerimos as nossas finanças para sustentar a vida que queremos viver, agora e no futuro. O estudo divide o bem-estar financeiro em dois componentes principais:

Stress na Gestão do Dinheiro Atual: O stress que sentimos em relação à situação financeira atual.

Expectativa de Segurança Financeira Futura: A sensação de segurança quanto à realização de objetivos financeiros futuros.

O estudo concluiu que a perceção de bem-estar financeiro, que engloba tanto o stress financeiro atual como a segurança futura, explica uma parte substancial do bem-estar geral. O impacto do bem-estar financeiro é tão importante como o conjunto dos outros domínios da vida, como a satisfação com o trabalho, a saúde física e a satisfação com as relações. Esta constatação sublinha a centralidade do bem-estar financeiro nas nossas vidas e a sua profunda influência na nossa felicidade.

  • Diferentes Influências: O stress na gestão do dinheiro atual e a expectativa de segurança financeira futura são influenciados por fatores diferentes. As características e os comportamentos a curto prazo, como fazer pagamentos mínimos, a falta de autocontrolo e o materialismo, potenciam o stress financeiro atual. Em contrapartida, as características e os comportamentos a longo prazo, como o planeamento a longo prazo, a autoeficácia financeira e a vontade de assumir riscos de investimento, aumentam a segurança financeira futura. Esta distinção realça a natureza multifacetada do bem-estar financeiro, em que os hábitos financeiros imediatos diferem significativamente das estratégias financeiras a longo prazo.

 

Compreender os diferentes antecedentes do stress e da segurança financeira pode ajudar a conceber intervenções mais eficazes. Por exemplo, o ensino de competências de autocontrolo e de planeamento financeiro pode aumentar significativamente a segurança financeira futura. Os programas escolares centrados nestas competências podem criar uma base sólida para o bem-estar financeiro a longo prazo.

  • O Papel do Rendimento: O rendimento, embora importante, não melhora diretamente o bem-estar geral. O seu impacto é mais matizado, sobretudo quando o stress financeiro atual é elevado. Um rendimento mais elevado pode atenuar os efeitos adversos do stress financeiro, fazendo com que as dificuldades pareçam mais temporárias. Para as pessoas com baixos rendimentos, o stress financeiro é mais agudo e tem um impacto negativo mais significativo no bem-estar geral, o que sublinha a importância de um apoio financeiro específico.

 

Os empregadores têm um papel crucial na promoção do bem-estar financeiro dos seus trabalhadores. Para os trabalhadores com baixos rendimentos, a concessão de empréstimos de emergência pode aliviar o stress financeiro imediato de forma mais eficaz do que a educação financeira tradicional. Para os trabalhadores com rendimentos médios e elevados, os programas que apoiam o planeamento financeiro a longo prazo e a definição de objetivos podem aumentar a sua sensação de segurança financeira e, por sua vez, a sua produtividade e satisfação profissional global.

Para aceder ao artigo de investigação completo, visite a página do Journal of Consumer Research aqui ou solicite uma cópia diretamente aos autores aqui.