Nos dias 2 e 3 de julho, decorreu a terceira edição do Mental Health in the Workplace Summit, encontro anual do Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho, promovido pelo Center for Responsible Business and Leadership da CATÓLICA-LISBON. 

O evento reuniu especialistas, líderes empresariais e representantes institucionais com o objetivo de debater o impacto da saúde mental no contexto organizacional e definir prioridades para o futuro. Durante a sessão, destacou-se a apresentação do trabalho desenvolvido por 25 empresas integrantes do pacto ao longo dos últimos três anos. 

Estiveram representadas mais de 20 organizações de diversos setores, entre as quais Galp, EDP, Cofidis, Águas de Portugal, REN, Booking.com, Johnson & Johnson, Auchan, Multicare, entre outros, assim como entidades públicas e instituições ligadas à saúde e à educação, como os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, o PIN (Partners in Neuroscience), a Fundação São João de Deus e várias instituições académicas. 

Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, abriu a sessão destacando o papel transformador da academia no combate a problemas sociais estruturais. “A CATÓLICA-LISBON é a casa do conhecimento rigoroso e da formação inspiradora, sempre orientada para a saúde”, afirmou, sublinhando que o Pacto para a Saúde Mental no Trabalho representa uma parceria entre academia e empresas, alinhada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 17. “Este pacto não é apenas um espaço de transmissão de conhecimento, mas sim um modelo de co-construção de soluções, onde cada participante contribui com práticas e experiências para resolver um problema comum”, reforçou. 

Defensor da inovação social como instrumento para enfrentar desafios negligenciados pela sociedade e pelo mercado, Filipe Santos alertou para o estigma e a invisibilidade que ainda cercam a saúde mental: “Só vemos a ponta do iceberg; por baixo, existe um enorme lastro de sofrimento, falta de produtividade e dinâmicas negativas nas equipas”. Para o Dean da CATÓLICA-LISBON, é precisamente nestes desafios, onde soluções eficazes geram impacto coletivo, que reside a urgência de uma ação conjunta. “A maior alavanca de desenvolvimento económico e social de um país são as empresas quando trabalham bem, nas coisas certas”.  

 

Saúde mental: tema cada vez mais presente, mas ainda um desafio nas empresas 

O programa do encontro incluiu apresentações temáticas e mesas redondas que abordaram o diagnóstico da saúde mental nas organizações, a implementação de boas práticas, a medição do impacto das iniciativas e a comunicação como instrumento para a promoção do bem-estar. Foram também apresentados projetos inovadores e soluções tecnológicas, como a MindMatch, cofundada e liderada por João Francisco Lima. 

Durante dois dias, partilharam-se práticas, ferramentas e reflexões que evidenciam a maturidade crescente com que o tema da saúde mental passa a ser encarado no tecido empresarial português. 

O ponto de partida foi claro: a saúde mental permanece, em muitos contextos, um problema negligenciado. Contudo, a sua integração nas estratégias organizacionais revela-se não só possível como urgente. As intervenções apontaram para a necessidade de uma abordagem sistemática, informada por dados, com metas claras e envolvimento ativo das lideranças. “Sem líderes responsáveis, não há cultura de bem-estar”, resumiu Nuno Moreira da Cruz, Dean da Formação de Executivos da CATÓLICA-LISBON, numa das mesas redondas. Esta visão foi reiterada por outros oradores, que salientaram que só com o enquadramento do tema como prioridade estratégica se pode gerar impacto real. 

A comunicação interna surgiu como ferramenta decisiva para o sucesso das iniciativas que promovem a saúde mental nos locais de trabalho. A forma como se aborda a saúde mental no contexto organizacional influencia a adesão e o envolvimento dos colaboradores. Transparência, empatia e reconhecimento fortalecem a cultura organizacional e aumentam a eficácia das ações implementadas. A formação em liderança empática e a avaliação sistemática do impacto das medidas figuram como condições essenciais para a sustentabilidade das iniciativas. 

Foi ainda salientada a importância de evitar erros comuns na implementação de estratégias de bem-estar. Entre os exemplos apresentados, destacaram-se situações em que se confundem eventos pontuais com políticas estruturantes de saúde e em que se desconsidera a escuta ativa dos colaboradores para avaliar a necessidade das equipas.  

As diferenças geracionais destacaram-se como tema central, especialmente na intervenção do keynote speaker Gustavo Jesus, médico psiquiatra e Diretor Clínico do PIN (Partners in Neuroscience). O aumento da rotatividade, a menor fidelização e a exigência de maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional transformam o mercado de trabalho. “O engagement dos colaboradores com as organizações tem diminuído, sobretudo nas gerações mais jovens”, afirmou. A geração Z valoriza significativamente o work-life balance e evita cargos de liderança por não querer assumir essa responsabilidade. Esta mudança obriga as organizações a repensar modelos de gestão, comunicação, retenção e reconhecimento. “Manter um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal prediz uma boa saúde física e mental”, concluiu. 

Gustavo Jesus abordou ainda o impacto da tecnologia na saúde mental, alertando que “a simples presença da tecnologia numa sala reduz o grau de atenção e produtividade”. Referiu a ligação entre o uso precoce de smartphones e o aumento de sintomas de ansiedade e depressão nas gerações mais novas, habituadas a estímulos rápidos e à gratificação imediata proporcionada pelos algoritmos. “As pessoas perderam a capacidade de lidar com o tédio”, observou, destacando que esta realidade influencia diretamente o trabalho, a comunicação e a gestão do tempo nas organizações. 

Três anos de trabalho conjunto culminam numa ferramenta de aplicação prática para as organizações 

O Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho, criado em julho de 2022, constitui o primeiro pacto global para empresas, desenhado para promover e acelerar a ação efetiva na promoção da saúde mental no local de trabalho. Liderado pelo Center for Responsible Business and Leadership da CATÓLICA-LISBON, conta atualmente com 32 empresas. 

Frederico Fezas Vital, Diretor Executivo do Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho, destaca três elementos fundamentais do pacto: o sentido de responsabilidade (ownership), pois é uma iniciativa liderada pela CATÓLICA-LISBON, mas movida pelas empresas; a lógica de serviço, onde as organizações partilham experiências, boas práticas e desafios; e o espaço seguro (safe space), um ambiente de partilha sem julgamentos. 

A apresentação do roadmap, oficialmente lançada no encerramento do evento, representa o culminar de três anos de trabalho colaborativo entre empresas e instituições. Este documento surge como uma ferramenta de aplicação prática para organizações de todas as dimensões, setores e graus de maturidade que procuram contribuir para uma gestão ativa e preventiva dos problemas relacionados com saúde mental no trabalho.  

Os objetivos deste Roadmap são: 

  1. Oferecer orientação acessível para a criação e implementação de programas estruturados de saúde mental e bem-estar nas organizações; 

2. Apoiar a reflexão estratégica, identificar novas áreas de intervenção ou medição do impacto, para as organizações que já deram passos decisivos neste tema. 

Não se trata de fornecer um modelo único e rígido, mas sim uma estrutura adaptável que permita o desenvolvimento de programas estruturados alinhados com realidades e desafios específicos. 

Qualquer dúvida sobre o Pacto para a Saúde Mental em Ambientes de Trabalho, poderá ser colocada através do envio de um e-mail para o Diretor Executivo do Pacto - Professor Frederico Fezas Vital (ffezas@ucp.pt).