A Península Ibérica tem potencial para ser um dos motores da Economia da zona Euro nos próximos anos.
Entramos em 2025 com um cenário económico para Portugal moderadamente favorável (crescimento previsto do PIB em torno dos 2% e excedente orçamental) num contexto geopolítico mundial de enorme incerteza, com desafios estruturais e políticos para a União Europeia. Apesar destes desafios, acho que 2025 e os anos seguintes podem ser excelentes para a economia portuguesa, continuando um ciclo favorável que se iniciou em 2022. Neste artigo explico porquê e quais são as áreas chave em que o Governo tem de trabalhar para assegurar este forte desempenho.
A economia portuguesa enfrentou enormes desafios de competitividade e graves crises financeiras desde o ano 2000 até 2021, que culminaram com a crise do COVID. Nesse período de 2001-2021, a nossa Economia foi uma das que menos cresceu a nível mundial e o nosso nível médio de riqueza comparado com os outros países da UE (PIB per Capita em paridade de poder de compra), desceu de 85% em 2000 para 74% em 2021.
No entanto, desde 2022 a nossa Economia entrou num ciclo de recuperação, com o PIB a crescer acima da média europeia, as contas públicas equilibradas, a divida pública e privada a reduzir-se, e o nosso nível médio de riqueza a aumentar de 74% para 81% da média europeia. Esse desempenho tem várias causas, algumas estruturais outras conjunturais, mas que irão continuar a ajudar a economia portuguesa em 2025.
A primeira tem a ver com o crescimento da população residente e do mercado de trabalho. Temos conseguido mais do que compensar desde 2021, através da imigração, a redução da população residente em Portugal causada pela baixa taxa de natalidade. A população estrangeira empregada aumentou de 55.6 mil pessoas em 2014 para 495.2 mil em 2023, representando atualmente cerca de 10% da população ativa e tendo um nível de qualificação médio superior à população portuguesa. Estes imigrantes têm alimentado o crescimento de setores tradicionais como a construção civil, a agricultura, a hotelaria, restauração, transportes e comércio, e a área de serviços de apoio a pessoas. Mas também têm um papel importante em setores mais avançados como o ecossistema de educação, ciência, consultoria e administração, bem como feito nascer novos projetos empresariais. Esta onda de imigração acentuou-se desde 2022 levando a um aumento anual de 1% da população residente (mais 100,000 pessoas por ano), que é atualmente de 10.6 milhões, tendo levado a população empregada para um máximo histórico acima dos 5 milhões de trabalhadores ativos. Esta tendência de forte imigração tenderá a continuar em 2025, pela crescente atratividade do país à escala global, e poderemos também melhorar muito o saldo migratório entre os mais jovens, atraídos pelas vantagens fiscais importantes do novo regime do IRS Jovem. Esta política poderá mesmo ter como resultado um influxo de jovens de outros países que queiram fixar residência em Portugal, mesmo aqueles que eventualmente trabalhem remotos – nómadas digitais e prestadores de serviços especializados, bem como empreendedores.
No contexto orçamental, passámos de um déficit público crónico que levou à quase falência do Estado Português exigindo a intervenção da Troika em 2011, para um dos países europeus com a mais notável redução de dívida pública nos últimos 3 anos (de 137.5% do PIB em março de 2021 para 97.4% em setembro de 2024), e um dos poucos países a apresentar um excedente orçamental (mais de 1% do PIB em 2023). Este desempenho reduziu o prémio de risco da dívida portuguesa e dá-nos margem para continuar a reduzir a dívida, ao mesmo tempo que nos permite realizar investimentos estratégicos que outros países não terão capacidade financeira de fazer. Desde logo na área da habitação, escassez que só se resolve com um investimento muito grande na oferta de habitação de custo baixo e médio.
No contexto macroeconómico, a nossa Economia está atualmente numa situação de maior equilíbrio face ao exterior, com uma balança de pagamentos positiva em quase 10,000 milhões de euros até ao terceiro trimestre de 2024 (refletindo a força das exportações de bens e serviços, com destaque para o bom desempenho dos serviços e turismo). Esta tem sido uma tendência crescente nos últimos anos sendo notável que, no espaço de uma década, a dívida externa líquida de Portugal face ao exterior reduziu-se de 100% do PIB para 50%.
Como resultado deste desempenho sólido nos últimos 3 anos e de um contexto macroeconómico de curto prazo favorável, a economia portuguesa entra em 2025 com solidez e confiança. Com um PIB a crescer em torno de 2% e acima da média da União Europeia, a inflação controlada em torno dos 2%, as taxas de juro de referência a normalizarem para níveis perto dos 3%, a população empregada em máximos históricos de 5 milhões de habitantes, baixo desemprego (6.5%) e um saldo demográfico positivo. Com um orçamento de Estado para 2025 aprovado permitindo antecipar alguma estabilidade política, mais a perspetiva de um record de financiamento de fundos europeus, pela combinação do PRR com o Portugal 2030, podemos encarar 2025 com otimismo.
Otimismo esse que será muito necessário num contexto internacional geopolítico muito adverso. O arranque da administração Trump augura um maior protecionismo e políticas cada vez mais isolacionistas daquele que é o nosso 5º mercado mais importante. As guerras atuais causam forte incerteza e graves riscos securitários em várias fronteiras da União Europeia, levando a um esforço de investimento em defesa. Assiste-se também ao declínio industrial da Europa. Com a exceção de Espanha, nosso principal mercado exportador, que está com um dos crescimentos mais pujantes da zona Euro devido a alguns fatores semelhantes a Portugal, os páises que são principais mercados das nossas exportações antecipam crises económicas ou políticas este ano (Alemanha, França e Reino Unido).
Ironicamente, neste contexto internacional muito difícil, Portugal, fruto dos feitos económicos recentes, da sua localização geográfica e recursos naturais, e da enorme competitividade do País na atração de Capital Humano (que é o motor das Economias modernas), está em posição privilegiada para ser uma das Economias mais dinâmicas da zona Euro em 2025. Considero mesmo que a Península Ibérica tem potencial para ser um dos motores da Economia da zona Euro nos próximos anos, beneficiando também da sua localização segura, laços com o continente americano e amplos recursos naturais renováveis.
Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON