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É preciso combater a “pink recession”

Sexta, Setembro 4, 2020 - 16:42
Publicação
Observador

A “pink recession” para a qual o FMI já chamou a atenção pode cancelar os progressos a favor da paridade. Os Governos devem preparar medidas para proteger o emprego feminino.

Numa altura em que só falamos, lemos ou discutimos a pandemia do Covid-19, percebemos que este vírus tem tirado a vida a mais homens do que mulheres. No entanto, a recessão associada a esta pandemia está a impactar muito mais as mulheres. Diversos estudos mostram que, em termos económicos e sociais, todos os fatores que reduzem a igualdade entre géneros têm um impacto negativo em toda a sociedade. E a pandemia do Covid-19 está a trazer-nos uma “pink recession”, e esta “recessão cor-de-rosa” não é só perigosa para as mulheres, mas para toda a sociedade. Quais são então as causas desta “pink recession”?

O teletrabalho tem sido a norma adotada em muitas profissões numa tentativa de fazer face a esta pandemia. Durante os últimos meses, muitas mulheres têm exercido as suas tarefas profissionais a partir de casa. E supostamente seria positivo para estas mulheres e mães que assim têm maior flexibilidade para gerir o seu tempo. Ora, o que constamos é que na realidade, a desigualdade na realização das tarefas domésticas aumentou ainda mais neste período. O ensino dos filhos em casa foi essencialmente absorvido pelas mulheres, que passam em média cinco horas por dia a apoiar os filhos de idade escolar, por comparação com as duas horas diárias assumidas pelos pais. Um estudo que compara as condições de trabalho em casa, refere que as mulheres, na sua maioria, acabam por trabalhar na mesa da cozinha quanto que os homens utilizam o escritório que têm montado em casa.

Por exemplo na academia (que é a minha indústria), onde a progressão de carreira depende da elaboração de publicações académicas e das submissões de artigos nas publicações académicas, as mulheres submeteram muito menos artigos em março e abril de 2020 quando comparado com o mesmo período em 2019. Esta diminuição de artigos submetidos não aconteceu aos académicos homens. Parece que as mulheres académicas, tiveram que se concentrar no ensino de aulas e no apoio à família e tiveram de sacrificar a investigação. Qual vai ser o impacto disto no médio prazo nas carreiras das mulheres?

Um estudo recente da McKinsey mostra que as mulheres estão mais representadas em indústrias que declinam com esta pandemia, como o retalho, a hotelaria, a restauração e a educação. A tendência da automação deve também afetar mais as mulheres. O impacto do ensino em casa existe também no emprego, já que as mulheres têm mais 50% de probabilidade de perder o emprego que os homens. Na Austrália, por exemplo, o número de mulheres empregadas caiu 5,3% enquanto que nos homens a queda é de 3,9%. A taxa de desemprego nos Estados Unidos da América estava situada, em julho deste ano, em 10,5% para as mulheres e 9,4% para os homens. Por fim, as mulheres, que representam 70% dos trabalhadores na saúde e nos serviços sociais ao nível global, assim estão também muito mais expostas ao risco de infeção.

Esta “pink recession” para a qual o Fundo Monetário Internacional já chamou a atenção, pode cancelar os progressos a favor da paridade que ocorreram nos últimos anos em termos económicos. Os Governos devem ter estes elementos em conta, e preparar medidas no sentido de proteger o emprego feminino. Se não se fizer nada, o impacto no PIB pode ser ainda mais dramático e a recessão ser pior.


Céline Abecassis-Moedas, Professora da CATÓLICA-LISBON. 

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