Ao contrário dos modelos que se concentram principalmente em competências, estilos ou resultados, a liderança virtuosa começa na realidade interior do líder — uma base estável de carácter moral e integridade que orienta todas as decisões e ações. Em vez de perguntar primeiro o que um líder faz, questiona quem o líder é.
Existem muitas formas de descrever o que faz um bom líder. Ao longo dos anos, estudiosos e profissionais da área da liderança propuseram inúmeros modelos, incluindo a liderança transformacional, a liderança servidora, a liderança autêntica e a liderança ética, entre outros. Cada um destes modelos enfatiza aspetos ligeiramente diferentes: alguns centram-se na capacidade do líder para inspirar e mobilizar os outros; outros destacam o serviço, a empatia ou a integridade moral. Por vezes, estes enquadramentos até apontam em direções distintas. Por exemplo, a confiança de um líder carismático pode contrastar com a humildade que é central na liderança servidora.
Não sou especialista em liderança, mas, entre as várias perspetivas existentes, aquela que mais ressoa comigo é a da liderança virtuosa. Ao contrário dos modelos que se concentram principalmente em competências, estilos ou resultados, a liderança virtuosa começa na realidade interior do líder — uma base estável de carácter moral e integridade que orienta todas as decisões e ações. Em vez de perguntar primeiro o que um líder faz, questiona quem o líder é.
A virtude, na filosofia clássica, refere-se a uma disposição habitual para fazer o bem, não como uma regra rígida ou um impulso momentâneo, mas como uma qualidade estável que molda as escolhas e ações de uma pessoa. As virtudes adquirem-se através da prática e da reflexão; são traços que permitem agir corretamente, de forma consistente e pelas razões certas. Nesse sentido, uma liderança enraizada na virtude não se limita a alcançar resultados, mas procura cultivar a excelência de carácter que naturalmente conduz a decisões sábias e justas.
Naturalmente, não existe consenso universal sobre quais as virtudes que definem um líder virtuoso (ver, por exemplo, o artigo publicado no Journal of Business Ethics). Diferentes tradições e culturas valorizam diferentes qualidades, incluindo a sabedoria, a compaixão, a integridade e a temperança, entre outras. Embora o modelo de Alexandre Havard, apresentado em *Virtuous Leadership*, não se alinhe totalmente com a literatura académica dominante, considero o seu enquadramento particularmente inspirador. Baseando-se no pensamento clássico e cristão, Havard identifica seis virtudes fundamentais, começando pelas quatro virtudes cardeais, que apresenta como a base da liderança moral:
Prudência: a capacidade de discernir o que é correto em determinada situação e de tomar decisões sábias e sensatas que conduzam ao bem (considerada a virtude que governa e orienta todas as outras).
Justiça: a vontade firme e constante de dar a cada pessoa o que lhe é devido, agindo com equidade e respeito em todas as relações.
Fortaleza: a força e a coragem para prosseguir o bem e manter-se firme mesmo perante o medo, a dor ou a adversidade.
Temperança: a autodisciplina que permite governar os desejos e as emoções, mantendo-os em equilíbrio e sob a orientação da razão.
A estas, Havard acrescenta duas virtudes adicionais que elevam a liderança ao seu mais alto nível: magnanimidade, o hábito de aspirar a grandes feitos — a grandeza de alma que leva o líder a perseguir objetivos nobres, procurar a excelência pessoal e inspirar os outros a alcançar o seu próprio potencial —; e humildade, o hábito de viver em verdade consigo próprio, reconhecendo simultaneamente a sua dignidade e as suas limitações, o que mantém a ambição equilibrada e abre o líder à aprendizagem, ao crescimento e ao serviço.
A boa notícia é que a virtude não é inata nem fixa. A investigação em psicologia e desenvolvimento moral indica que as virtudes podem ser cultivadas intencionalmente através da reflexão, da formação de hábitos e da prática regular. Nesse sentido, a liderança virtuosa não é uma questão de personalidade ou carisma, mas sim de crescimento pessoal contínuo e de um esforço de vida inteira para alinhar quem somos com o que é bom.
João Cotter Salvado, Professor na CATÓLICA-LISBON