É o primeiro centro de inovação social em Portugal e promete ser uma cartada de trunfo no que diz respeito ao caminho por um mundo mais igualitário e sustentável. A CATÓLICA-LISBON, em parceria com a Galp e a Fundação Santander, criam o CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center, da rede do economista Muhammad Yunus.
O CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center, da rede do economista Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz de 2006, é o primeiro centro de inovação social do país. Criado com o apoio da Galp e da Fundação Santander Portugal na Católica Lisbon School of Bussiness and Economics, o projeto nasce com o propósito trazer as ferramentas de inovação social a todos, ao serviço de uma transição energética justa e um mundo com menos pobreza e a outras áreas de necessidade.
O projeto pretende promover o desenvolvimento social e os negócios que impactam positivamente a sociedade, tendo como propósito maior a erradicação da pobreza e da crise climática através do poder dos negócios, promovendo assim o desenvolvimento social com base na atuação empresarial e modelos de negócio focados na sustentabilidade e na inclusão.
O protocolo com a Galp e Fundação Santander Portugal para o Centro de Inovação Social estará em vigor por um período de três anos, tendo um investimento externo de 100 mil euros ao ano. "Precisamos de um compromisso de cidadania com a geração mais jovem, de ter capacidade de criar inovação social e de nos preocuparmos com as questões sociais. É uma dicotomia criativa que funde negócios e impacto na mesma abordagem", afirmou Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, em entrevista ao Jornal de Negócios.
Como é que nasce o projeto e como se posiciona no fundamento de que os negócios sociais são o futuro
A parceria firmada entre a CATÓLICA-LISBON, a Fundação Santander Portugal e a Galp, tem como objetivo apoiar o desenvolvimento, a produção e a difusão de conhecimento e projetos nas áreas da inovação social e da mudança sistémica.
O programa enquadra-se numa rede internacional criada por Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz em 2006, que está presente em vários países e que já teve impacto demonstrado em cerca de 47 milhões de pessoas em todo o mundo. O sonho? Promover um mundo “com três zeros”:
- Zero pobreza;
- Zero desemprego;
- Zero emissões líquidas de carbono.
Com base nestes pressupostos, o projeto e os seus fundadores acreditam que o caminho para este mundo mais igualitário e sustentável se rege através dos modelos de inovação social, em particular os negócios sociais. Na Web Summit 2022, onde o projeto CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center foi apresentado, Saskia Bruysten, CEO da Yunus, sublinhou que "o negócio social é um negócio lucrativo, mas que é otimizado para resolver problemas sociais e ambientais em oposição ao velho mundo empresarial, que cria problemas sociais e ambientais como os conhecemos".
O Yunus Center nasce com o propósito de disseminar o poder dos negócios para acabar com a pobreza e a crise climática, dando apoio a esta evolução através do crescimento dos negócios sociais, que são a ponte para a “construção de um mundo melhor” e uma erradicação dos problemas que, de facto, são transversais a toda a sociedade.
O CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center resulta, assim sendo, desta parceria entre a CATÓLICA-LISBON e o Yunus Centre, enquadrando-se na rede de Yunus Social Business Centers criada por Muhammad Yunus, com objetivo de expandir o conceito de negócio com impacto em todo o Mundo.
A missão do CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center é promover e disseminar a Inovação Social como ferramenta para a resolução de problemas sociais e ambientais, com foco na sociedade portuguesa, podendo fazê-lo também:
- Em outras geografias onde as partes estão presentes;
- Apoiar e dinamizar as iniciativas de negócios sociais e outros modelos de inovação social na prossecução dos seus objetivos de impacto, contribuindo para a aceleração da adoção de soluções inovadoras;
- Fomentar a ligação e trabalho conjunto entre empresas e negócios sociais ou outros modelos de intervenção baseados na inovação social;
- Desenvolver iniciativas de formação e capacitação para a inovação social.
Trazer um projeto internacional para Portugal: como é que se olha para este privilégio?
O Professor Muhammad Yunus, fundador do projeto, acerca do lançamento deste Centro em Portugal, diz que “esta parceria entre o Yunus Centre e a CATÓLICA-LISBON, a primeira em Portugal, tem uma especial importância para nós, uma vez que Portugal tem sido um estudo de caso e um modelo a seguir na promoção da inovação social e no desenvolvimento de novos modelos de negócio sustentáveis, com impacto real na sociedade, no contexto europeu”.
“Estamos muito satisfeitos e com vontade de trabalhar em proximidade com o CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center e seus parceiros, no sentido de conseguirmos ter um mundo de 3 zeros – zero emissões de carbono, zero concentração de riqueza para erradicação da pobreza e zero desemprego através do desenvolvimento de competências empreendedoras em todos.”
De acordo com Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON, “acreditamos que a resolução dos problemas complexos da nossa sociedade requer a participação das empresas e o desenvolvimento de modelos inovadores de negócios com impacto social. O desenvolvimento do Yunus Social Innovation Center em parceria com a Fundação Santander Portugal e a Galp visa desenvolver conhecimento e programas que tornem esta visão possível”.
Para Frederico Fezas Vital, que assume as funções de Diretor Executivo do CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center, “este protocolo com a Galp e a Fundação Santander Portugal é um apoio fundamental para as ambições do novo Centro que agora arranca e que irá permitir não apenas apoiar toda a inovação social que já existe em Portugal, venha ela de onde vier, como criar novos modelos, mais inclusivos, sustentáveis e eficientes, para a mudança social e ambiental.”
Segundo Inês Oom de Sousa, Presidente da Fundação Santander Portugal, “esta parceria faz todo sentido, porque partilhamos o objetivo fundamental de apoiar e desenvolver projetos com elevado impacto social e económico, contribuindo para reduzir as desigualdades.” E acrescenta: “A Fundação Santander Portugal nasce para transformar vidas, de empresas e particulares, tendo como pilar estratégico a Educação. Pretendemos ter ainda um papel ativo nas três vertentes de ESG, promovendo uma sociedade mais inclusiva e sustentável. Acreditamos que esta parceria vai ao encontro destes nossos objetivos e que podemos fazer a diferença.”
Ana Casaca, Diretora de Inovação da Galp afirma que, “na Galp, a área da Inovação tem como objetivo desenvolver um portfólio de oportunidades que potenciem a transição energética e nos ajude a seguir no caminho da descarbonização. Desde muito cedo entendemos que não será só com tecnologia que alcançaremos esses objetivos, porque para que a transição energética seja justa e inclusiva, a inovação social será fundamental no desenvolvimento de mecanismos e modelos de negócio que façam chegar essa tecnologia e os seus benefícios a toda a sociedade”.
Todos os envolvidos neste projeto não têm dúvidas sobre qual o seu papel neste ecossistema: ajudar jovens e empresas a ganhar uma maior consciencialização sobre aqueles que são considerados os maiores problemas da sociedade moderna, comprometendo-se a encontrar mecanismos que ajudem os envolvidos a caminhar para um mundo melhor. Nenhuma área ou pessoa fica de fora – todos podemos fazer a diferença.
Inovação Social: afinal, o que é que significa e que bem pode trazer ao mundo?
Segundo Frederico Fezas Vital, a inovação social é bem mais simples do que pode parecer, estando cada vez mais nos assuntos do dia e na agenda mediática e social. Não será por isso estranho ou invulgar pensar que muitas empresas começam já a perceber os benefícios de implementar este tipo de modelo não apenas para as pessoas e para o planeta, como também para os próprios negócios.
“Sempre que falamos de inovação, a tendência é a de complicarmos, à cabeça, o processo”, explica Frederico Fezas Vital num artigo de opinião no Observador. “Pensamos que temos de inventar algo completamente novo, que mais ninguém pensou e que seja um reinventar da roda. Na realidade, a inovação é muito mais simples do que parece. Mesmo quando, como acontece com a inovação social, se procura resolver ou mitigar problemas muito complexos”, escreve.
A bem da verdade – e muitas vezes -, os negócios sociais nascem pela observação real de um problema e, adaptando um modelo já existente, alteram-se pequenos pormenores de forma a resolver ou suprir alguma necessidade. Ou seja, não se inventa a roda: adapta-se a roda já existente ao contexto observado, dando-lhe apenas o twist suficiente para que faça a diferença.
“As iniciativas sociais não criam apenas áreas de mercado. Contribuem decisivamente para quebrar um círculo vicioso em vários problemas sociais e ambientais. E isso é inovação social”, afirmou no mesmo artigo, mostrando assim – e cada vez mais – o peso da inovação social no desenvolvimento da sociedade atual.
Simplificando o conceito, analisemos um exemplo prático de inovação social que, para além de ter criado uma área de negócio, teve impacto positivo na vida das pessoas: o Grameen Bank, do Professor Muhammad Yunus. Que projeto é este?
O Grameen Bank nasce em 1976 com um propósito claro: ajudar famílias com carências económicas profundas. Como? Pegando num modelo de negócio de financiamento - já existente - e adaptando-o às necessidades destas pessoas. Este projeto, com assinatura de Muhammad Yunus, permitiu o acesso ao financiamento por parte de camadas populacionais que viviam em extrema pobreza, com condições que quebram com aquilo que seria a norma da prática corrente deste tipo de instituições financeiras.
O Grameen Bank acabou não apenas por criar uma nova área de negócio, mas também teve um impacto decisivo na quebra de um círculo vicioso de pobreza – numa altura em que ainda nem se pensava no termo de inovação social – ao ajudar uma franja da sociedade que havia sido esquecida e que não poderia ter acesso a financiamentos.
E, para Frederico Fezas Vital, esta é a verdadeira beleza da inovação social: originar processos que conduzam à melhoria efetiva da vida das pessoas e, também, da qualidade do planeta. Estes processos podem vir de qualquer contexto ou sector, desde que provoquem uma mudança que, de facto, impacte o mundo. “Essa é a beleza da Inovação Social. Se houver vontade, competência e alguma resiliência, ela é acessível a todos os que a quiserem criar”, escreveu ainda no mesmo artigo de opinião citado.
Da teoria à prática, eis o que o CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center vai realizar em concreto
De forma mais prática, o CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center irá desenvolver um programa de inovação social, incluindo a literacia sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Promover-se-ão ações junto de jovens em escolas secundárias, para que comecem a interiorizar e aplicar estes conceitos à sua volta e futuramente no mercado de trabalho.
Ainda na área da educação, o centro vai sistematizar informação relativa aos critérios ESG (ambiental, social, governação, na sigla em inglês), para ajudar as empresas a incorporarem melhor os critérios de sustentabilidade.
O centro também pretende compreender a questão da pobreza energética de forma a permitir uma transição energética mais equitativa na sociedade. Para Filipe Santos, "a resolução dos problemas complexos da nossa sociedade requer a participação das empresas e o desenvolvimento de modelos inovadores de negócios com impacto social".
Assim, o CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center irá participar ativamente num processo que pretende ser de mudança, contribuindo para formar jovens e empresas a aplicar novos métodos e modelos de negócio que se espelhem num mundo mais igualitário e sustentável, abrindo portas para uma sociedade que, no futuro, terá melhores condições a todos os níveis.