Foi há 50 anos um momento importante. A Universidade Católica Portuguesa abriu a primeira licenciatura em administração e gestão de empresas em Portugal, a qual formou desde então várias gerações de líderes empresariais Portugueses e conta com cerca de 10,000 graduados. Essa licenciatura, pioneira em Portugal, deu origem à CATÓLICA-LISBON, a primeira business school portuguesa reconhecida internacionalmente, hoje uma escola de topo a nível mundial.
Há 50 anos, nessa primeira semana de aulas, o professor de liderança Luis Caeiro dava uma das primeiras aulas da nova licenciatura sobre como gerir e motivar pessoas. Passados 50 anos, Luis Caeiro continua a inspirar os seus alunos e os executivos de empresas que vêm à CATÓLICA-LISBON realizar a sua formação. Ele vai publicar este Verão, pela Universidade Católica Editora, o seu novo livro sobre Liderança na Era da Incerteza. A experiência e profundidade do pensamento do Luis Caeiro são extraordinárias, e vale a pena seguir as suas ideias sobre o papel da incerteza na sociedade, as consequências da pandemia, as transformações nos modelos de trabalho, bem como as implicações para os líderes de lidarem com uma elevada incerteza.
A história da economia moderna e da gestão está associada ao tema da incerteza e ao seu domínio ou tentativa de controlo. A Humanidade domina a incerteza quando a consegue conhecer e transformar em risco – definido como a clareza sobre os cenários possíveis de ocorrerem e a probabilidade de eles acontecerem, bem como os seus efeitos. Com esse conhecimento, é possível gerir o risco de decisões de afetação de recursos a um empreendimento e otimizar decisões de investimento. Nascem assim os mercados de seguros para mutualizar riscos, as estratégias de diversificação de portfolios de investimento, bem como os modelos de planeamento estratégico das empresas. Assim, dominar a incerteza permitiu desenvolver o setor financeiro e aprofundar o modelo capitalista. E tudo corre de forma ordenada até à chegada do proverbial cisne negro, esse evento muito raro, imprevisível, mas de consequências marcantes, que gera um aumento da incerteza, prejudica os planos realizados e provoca angústia nos gestores e cidadãos por quebrar referenciais de decisão e comportamento já instalados. A pandemia foi um exemplo claro de um evento cisne negro.
Mas não é so a incerteza que nos rodeia. Hoje em dia, uma das expressões que se ouve mais para caracterizar o mundo moderno é VUCA – Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity. Este termo VUCA reflete quatro diferentes estados da natureza e do nosso entendimento sobre ela, os quais requerem respostas estratégicas diferentes. O mundo está de facto mais volátil, em particular nos últimos de pandemia, crise, e guerra, mas a volatilidade resolve-se criando sistemas com redundância (por exemplo nas cadeias de valor das empresas) e acumulação de almofadas de segurança (incluindo stocks de componentes, de liquidez e de talento), bem como maior investimento na preparação para as crises. O mundo está também mais complexo, com um maior número de dimensões a ter em conta e partes interessadas (stakeholders) a compreender e gerir, mas essa gestão é fácil de enquadrar nos modelos de decisão existentes, exigindo especialização e compreensão das interações entre os componentes do sistema. Já a ambiguidade é um estado de ignorância mais profundo e que paraliza os decisores económicos, mas normalmente tem curta duração e acontece especialmente em áreas novas ou na sequência de disrupções tecnológicas. Este é um domínio onde brilham os empreendedores pois conseguem aprender de forma ágil através da experimentação em ambientes com ambiguidade e criar novos significados e estruturas para os outros. Já a incerteza é dos estados da natureza mais comuns e mais dificeis de gerir pois implica um constante aprofundar do nosso conhecimento sobre a realidade incerta para tentar ganhar mais clareza sobre um contexto que está ele próprio em constante transformação.
Lidar com a incerteza é assim uma das funções essenciais da liderança. Em contextos de maior incerteza, as pessoas sentem ansiedade acrescida, pois os seus modelos mentais de referência já não funcionam. Nesta situação, podem ter a tendência a seguir líderes radicais que trazem soluções simples e confortantes, embora normalmente enganadoras. A boa líder em época de incerteza (segundo Luis Caeiro, a maior parte das vezes os bons líderes são mulheres), é aquela que é capaz de demonstrar visão sistémica, sentido estratégico, resiliência e flexibilidade, bem como alimentar a esperança, dar confiança e desenvolver relações de empatia, sempre com autenticidade e consistência.
Mas a incerteza também tem vantagens. As democracias são sistemas pluralistas de múltiplas vozes pelo que normalmente são sociedades com mais incerteza do que as sociedades de regimes totalitários. E é a incerteza que dá espaço à inovação, seja ela empresarial, social ou artística. No final da introdução do seu livro, Luis Caeiro escreve: “Vivemos na era da incerteza, nas vésperas de um futuro que nos vai surpreender e que encaramos com natural ansiedade. Mas a era da incerteza é também o tempo de todas as possibilidades. A incerteza é o chão da liberdade, da criatividade e do fascínio. Como dizia Oscar Wilde, “A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza. A neblina torna as coisas maravilhosas”. Liderar na era da incerteza é um desafio que só agora começou.”
Agradeço publicamente ao Luis Caeiro por 50 anos de ensino e inspiração na CATÓLICA-LISBON, escola e alunos a quem tem dado tanto de si durante tanto tempo. És um exemplo de dedicação e serviço à causa do conhecimento, da aprendizagem e da procura de um mundo melhor, com paixão, ética e responsabilidade.
E, para terminar, falemos não de incertezas, mas de certezas. Ontem o Financial Times publicou o seu ranking global dos Mestrados em Finanças. A CATÓLICA-LISBON subiu seis posições e é agora o 17º melhor mestrado do Mundo, estando no Top 4 mundial em progressão salarial após 3 anos. Esta é a certeza do extraordinário talento e sólida preparação dos nossos graduados. Parabéns aos nossos alunos e graduados em Finanças. Esta distinção é vossa!
Filipe Santos, Dean da CATÓLICA-LISBON