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E se a pandemia te traz desemprego? Fazes um negócio de limonadas?

Sexta, Junho 11, 2021 - 16:58
Publicação
Observador

Recentemente temos visto em vários círculos acenar-se com o empreendedorismo como uma solução para o desemprego.

A pandemia, mesmo mantendo muitos em teletrabalho, veio exacerbar o número de desempregados, especialmente desempregadas que já tinham situações de emprego mais precárias ou de salários mais baixos (PORDATA). E, mais uma vez, se acena com a bandeira do empreendedorismo feminino como uma receita milagrosa, que não é mais do que uma proposta tentativa de autoemprego, quando empreendedorismo é muito mais do que isso.

O empreendedorismo, sendo uma solução para alguns, não é uma solução para todos. Não é empreendedor(a) quem quer.

Vamos por passos:

  1. Ter um negócio não é para todas.

Ser empreendedor ou ter o próprio negócio requer dedicação, foco, determinação, experiência e também alguma formação.

Ter um negócio implica cedências, muitas horas de trabalho e capacidade de investir muito tempo (muitas vezes não remunerado de início).

A insegurança também é constante. Não há resultados (ou salários) garantidos.

Há que ter uma personalidade que implica a constante capacidade de tomar decisões.

Implica ainda não ter uma estrutura de suporte. Todas as decisões dependem do empreendedor que toma o risco de todas as decisões.

É também lidar com burocracias infindáveis...desculpem-me os decisores, mas ainda é assim...mesmo que se queira (e muitas vezes quer-se) cumprir com todos os requisitos e legalidades. O emaranhado burocrático é tal que não poucas vezes vemos o empreendedor aceitar as suas próprias limitações e “entregar a alma ao criador”!

 

  1. Que negócio?

Existem várias ferramentas e metodologias que podem ajudar no momento da ideação. No entanto, é possível, mesmo não as aplicando, encontrar um negócio interessante. Um negócio em que acrescente valor. Oferecer o mesmo que um concorrente já estabelecido no mercado só vai destruir valor... há que oferecer algo melhor (ninguém vai querer competir por preço). E melhor quer dizer diferente, com mais valor percebido pelo cliente, com uma proposta de valor que seja diferenciadora no mercado e que faça com que nos prefira face à concorrência.

 

  1. Negócio ou hobby?

Antes de criar o seu próprio negócio e investir alguma coisa devemos perguntar: Isto é um negócio? – digo muitas vezes uma verdade que me parece tão elementar, mas que é muitas vezes descurada – um negócio tem de ser sustentável (para não dizer rentável). Caso não seja, então não é um negócio....é um hobby. E não há nenhum inconveniente nisso, mas simplesmente não deve ser encarado como um negócio, pois não o é. Até posso transformar um hobby num negócio, mas tem de se sustentar como tal.

 

  1. Sócios?

A minha avó dizia que “meias só para as pernas” ... e não sendo sempre assim, tem algo de verdade. Um plano de negócios é muitas vezes avaliado pela equipa que se tem. Geralmente, quando avalio, começo por olhar para a equipa, depois para a equipa e a seguir para a equipa. Depois avalio o resto do plano de negócios...um sócio tem de trazer valências onde somos mais fracos, tem de trazer valor acrescentado ao negócio.

E, principalmente, tem de partilhar a mesma visão estratégica e os mesmos objetivos para o novo negócio. Todos os sócios terão de remar no mesmo sentido.

Sócios ou não, a equipa é fundamental para fazer a empresa crescer.

 

  1. Qual é o mercado?

É fundamental conhecer o mercado onde a empresa vai atuar. Qual a dimensão, que concorrentes existem, que boas práticas existem, qual a cadeia de valor, quem são os fornecedores? Hoje em dia é muito fácil e há muita informação pública e fidedigna disponível que permite conhecer com muito detalhe qual é e como é o setor onde se vai atuar. Ter experiência prévia, uma rede de contactos e conhecer especialistas é uma grande mais-valia.

 

  1. Quem é o cliente?

O cliente é o diamante do seu negócio. Sem cliente não há negócio. Por isso, conhecê-lo bem e dirigir-se ao cliente da forma adequada, da forma que ele quer é fundamental. Saber que características tem, o que ele pensa, o que ele gosta, que fatores valoriza no produto, o que pode diferenciar o produto para se tornar referênciado no mercado e o que o levará a recomendar e recomprar o produto ou serviço.

Conhecer o cliente permite ajustar o produto às suas necessidades, falar com o cliente da forma que ele prefere, usar os canais que prefere e acima de tudo entregar o valor que o cliente valoriza.

 

  1. É rentável?

Mesmo que não faça um plano de negócios, ter uma ideia de se o negócio é sustentável é essencial. Às vezes bastam umas “contas de guardanapo” para perceber que o negócio não se autossustenta, ou que seria necessário vender um número tão elevado de unidades que é inviabilizador do negócio.

 

É simples...depois destes passos, pode começar a pensar em empreender e ter o ser próprio negócio...

 

Rute Xavier, Docente da CATÓLICA-LISBON e responsável pelo programa We@CATÓLICA-LISBON

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