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E depois do Covid: mais vale Camelo que me carregue que Unicórnio que me derrube

Sábado, Setembro 26, 2020 - 18:10
Publicação
Observador

As startups que sobrevivem já não são necessariamente os unicórnios, mas os bem menos glamorosos camelos, que são resilientes, resistentes, preparados para a sobrevivência em climas adversos.

No ecossistema das startups, os unicórnios são os seres raros cobiçados pelos empreendedores, que buscam valorizações acima US$ 1 bi.

Entretanto, ser unicórnio deixou de ser assim tão raro e já há quem classifique as empresas como a Uber como “dragões”: mais raras, mais agressivas e capazes de angariar 1 bi de dólares numa única ronda de investimento.

Mas serão estas, os unicórnios e os dragões, a sobreviver à pandemia?

Temos vindo a assistir à queda de alguns unicórnios, que não estão necessariamente relacionadas com impactos da crise Covid.

Mais do que inovadoras, ferozes, capazes de angariar milhões em rondas de investimento, a nova realidade que vivemos necessita de negócios que se adaptem para sobreviver e prosperar.

As startups que sobrevivem já não são necessariamente os unicórnios, mas os bem menos glamorosos camelos, que são resilientes, resistentes, preparados para a sobrevivência em climas bem adversos e que ainda são capazes de correr grandes distâncias quando necessário.

A adaptação sempre foi importante para os negócios. No panorama atual, tornou-se essencial.

Alteração do modelo de negócio

Em março deste ano assistimos à alteração dos modelos de negócio. O consumidor mudou, digitalizou-se e alterou hábitos de consumo. E as empresas foram-se adaptando, dando resposta a essa alteração de hábitos e na perspetiva de que essa adaptação se mantenha…

No retalho, passámos a assistir a uma alteração do canal de venda. Algumas empresas passaram a ter lojas digitais, quando estas não faziam parte dos seus canais de distribuição. Inclusivamente, marcas de luxo, que consideravam que o canal digital não era ajustado ao seu cliente, criaram ou dinamizaram este canal.

Na restauração, e com o decretar do estado de emergência, os restaurantes que conseguiram sobreviver foram os que se ajustaram para a oferta de takeaway, aliaram-se a plataformas de entrega e alteraram o modelo de negócio.

De seguida, com a suavização das medidas, os restaurantes que conseguem ter espaços alternativos – esplanadas e até espaços novos e complementares de oferta – são os que se tornam mais promissores. Os caterings passaram a ter boxes delivery. Mais, todas estas medidas estão a alterar a forma de atuação desta indústria, de uma forma que as boas práticas se vão manter para o futuro.

Na educação, muito se falava (e apenas algumas instituições de ensino tinham este tipo de oferta) do tão anunciado blended learning (aulas online e físicas). Atualmente, esta é uma realidade para todas as instituições. Hoje em dia, aquilo que se acredita que fosse uma realidade generalizada apenas daqui a uns anos, forçou a adaptação de todas as instituições,  pequenas ou grandes, universidades, escolas ou centros de explicações.

Em suma, seja qual for o negócio, este terá de se adaptar para sobreviver (em todas as alturas e ainda mais nesta fase de choques). É urgente perceber, permanentemente, quais são as Necessidades do Cliente; qual a Proposta de Valor que satisfaz essas necessidades; escolher a melhor forma de Comunicar esta Proposta de Valor (em que canais está o meu cliente); e assegurar a Capacidade de Entrega (ter os recursos tecnológicos, financeiros e humanos para o fazer).

O mundo continuará a ser de alguns unicórnios se estes tiverem a capacidade de inovar permanentemente, de se ajustar e de resistir. Mas o mundo será, com certeza, dos camelos, que são resilientes, bem estruturados, que sobrevivem sem comida e sem água meses a fio. Eles são reais e podem sobreviver nos locais mais inóspitos do planeta. Não são criaturas do fantástico, mas são, com certeza, fantásticas criaturas.

 

Rute Xavier, Professora da CATÓLICA-LISBON. 

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