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Guerra comercial

Thursday, July 19, 2018 - 15:51
Publication
Jornal de Negócios

O governo americano decidiu iniciar uma guerra comercial com a China. Impondo tarifas aduaneiras de 25% ou de 10% numa série de produtos. Os produtos chineses visados representam cerca de 250 biliões de dólares de exportações anuais para os EUA.

A China decidiu retaliar impondo também tarifas aduaneiras a alguns produtos tentando encontrar efeitos económicos equivalentes na economia americana. Em termos estratégicos a China é mais vulnerável a esta guerra por causa das grandes fragilidades do seu sistema financeiro, que poderá não resistir aos custos internos das perdas decorrentes de um forte abrandamento ou mesmo redução das suas exportações.

A vulnerabilidade relativa entre a China e os Estados Unidos é, porém, irrelevante. O importante é a perda conjunta para a economia mundial que resultaria de uma guerra comercial. O Fundo Monetário Internacional já veio avisar que a guerra comercial iniciada pela administração americana poderá custar cerca de 0.5% de crescimento à economia mundial. É difícil compreender porque é o Governo do país mais importante do mundo desde a segunda guerra mundial, os EUA, queira causar um custo propositado à economia mundial.

A administração americana está a distribuir a sua linguagem comercial tóxica e agressiva a muitos outros países e espaços económicos incluindo o México e o Canadá, membros da NAFTA, ou os diversos países da União Europeia, com adjetivação suplementar reservada à Alemanha.

O protecionismo económico é popular em quase todas as geografias, não apenas em Portugal ou França, e, portanto, também juntos dos cidadãos norte americanos. No entanto, a maioria dos Governos seguiam outro caminho e pareciam perceber as vantagens económicas do multilateralismo das regras no comércio internacional. O que é diferente hoje é o discurso protecionista de alguns Governos que não parecem compreender os benefícios do sistema construído pelo multilaterismo da Organização Mundial do Comércio (OMC) sob a liderança dos EUA e da União Europeia.

A China aderiu à OMC em 2001, o que aumentou de forma significativa a sua participação no comércio mundial. O facto de a China ser uma ditadura brutal com pouco respeito pelos direitos humanos não impediu a sua entrada na OMC. No fundo aceitou-se a tese realista de que a participação livre no comércio internacional não pressupunha a existência de um regime político democrático ou o respeito pelo estado de direito.

Olhando para o extraordinário crescimento da China desde 1978 - não tem uma recessão desde essa altura - com a entrada em vigor das reformas económicas de Deng Xiaoping, pode-se concluir sobre a importância do comércio externo na redução da pobreza. Um dos efeitos negativos do sucesso económico da China, porém, é o prolongamento do seu regime político. Agravado pelo simbolismo abjeto de que os regimes sem democracia podem produzir melhores resultados económicos.

A guerra comercial iniciada pelos EUA contra a China não está, porém, ancorada em valores de direitos humanos, pobreza, democracia ou benefícios económicos. Nem em termos do respeito pelas normas da OMC, se assim fosse seriam discutidas nesse fórum.

As organizações internacionais como o Banco Mundial ou o FMI só vêm riscos económicos nestes desenvolvimentos.

Os EUA escolheram agredir economicamente a China apenas porque podem. E é difícil encontrar razões de Estado para justificar este comportamento. Por isso sobram as razões de cariz meramente psicológico decorrentes da personalidade dos atuais atores políticos americanos.

Os mercados financeiros, e os dados económicos, ainda não dão sinais de preocupação. O que é paradoxal em si mesmo.

Será que a retórica dos líderes se tornou irrelevante? Será que as medidas já aprovadas são economicamente despiciendas? Ou os mercados acreditam que se encontrará uma forma esdrúxula de fingir que são aplicadas?

A minha conclusão é apenas uma esperança. De que os EUA regressem ao seu papel de liderança do mundo livre. O seu comportamento atual envergonha a sua história.

 

João Borges de Assunção, Associate Professor da CATÓLICA-LISBON.

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