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O uno conjunto Alverca-Portela com um total até 1.850ha usa o território e tem conectividade rodoferroviária mais eficiente que os três separados aeroportos parisienses, com área de cerca de 5.200ha.

 

No passado dia 20 de junho, realizou-se uma conferência promovida pelos Alumni Católica no campus da Universidade Católica (em Lisboa), que teve como pano de fundo o título deste artigo e na qual se abordaram duas questões cruciais:

  • As projeções na base da decisão Alcochete são manifestamente otimistas ao mais que duplicarem a mais recente EUROCONTROL-2050, que se situa no patamar 40-50 milhões de passageiros. A decisão Alcochete prevê chegar a 142 milhões de passageiros no novo aeroporto (valor superior ao movimento de passageiros de hoje nas metrópoles N. Iorque-140M, Tóquio-125M e Paris-100M).
  • O atualizado requisito de área por milhão de passageiros num aeroporto ocidental é de 12-15ha por milhão de passageiros, um terço do índice ocupacional (43ha) considerado pela comissão técnica nomeada (CTI).

 

Deste modo, com empolamento sobre empolamento, se chegou ao equívoco de sextuplicar a área necessária. E se as duas cumulativas bases de partida estão erradas!…

Uma das mais relevantes conclusões da conferência, foi que desaproveitaremos um competitivo tandem aeroportuário-fabril na margem norte “PORTELA-ligação metro/casa TAP-manutenção + ALVERCA-estação L. Norte/casa OGMA-Embraer”, para ter um longínquo giga aeroporto e uma megaponte rodoferroviária por ele estar na margem contrária à procura. Outra não menos relevante conclusão, é que Portugal desperdiçará a oportunidade de ter uma solução em 2,5 anos com uma poupança de 12 mil milhões de euros comparada com a solução Alcochete.

A conferência deu a conhecer uma solução Alverca-Portela desconhecida da maioria dos presentes e levou muitos deles a colocar uma questão concreta: “Porquê manter o aeroporto da Portela no século XXI”, questão central a que este artigo tenta responder.

A nosso ver, um exemplo de boas práticas – no caso PARIS – torna inequívoco que conservar/melhorar os aeroportos-citadinos é a estratégia europeia do presente e futuro.

A França, país líder na indústria aeronáutica europeia, evidencia na sua capital que não se trocam preciosos serviços de aeroportos-citadinos (Bourget e Orly) por simples imobiliário, que se pode fazer em qualquer lado. A estratégia evolutiva seguida em Paris foi focada no tripé “concertar funções-harmonizar operações-melhorar convivência com envolvente”, em grandes linhas:

  1. Os aeroportos-citadinos são complementares ativos estratégicos: o mega-aeroporto-hub articula com Orly-voos diretos e Bourget-manutenção/voos executivos (com nova pista paralela às de CDG), que melhoram a sua relação com a cidade mediante redução horário/teto de movimentos. A melhor prova da sua importância competitiva é dada pelo enorme investimento da ligação metro aos três aeroportos parisienses (abrem em 2024-2028).
     
  2.  Planeamento estratégico revisto em 2021: face ao novo contexto de crescimento moderado do tráfego aéreo (EUROCONTROL), obrigação de descarbonizar o setor (atividades aéreas, no solo e nos combustíveis) e reforçar o desvio de avião para ferrovia sempre que possível, o governo francês tomou a decisão em 2021 de acabar de vez com o projeto de expansão CDG-mega terminal 4, a qual tinha como pilar o otimista crescimento do tráfego aéreo pré pandemia.
     
  3. HUB Paris-CDG no final de 2023 com 67M (antes da pandemia 76M): agora a visão é “melhorar” em vez de aumentar, de que são exemplos a expansão/atualização do comboio-automático interno e o aumento da transferência avião-comboio via mais ligações TGV.  A visão contida do que é o maior destino turístico citadino mundial e, este ano, o palco dos Jogos Olímpicos, contrasta com a de Lisboa, onde a CTI prevê um crescimento “supersónico”.

 

A inovação mundial da fusão de existentes aeroportos Alverca e Portela-citadino

Em Lisboa faz-se o mesmo que em Paris, roda-se a pista num aeroporto (Alverca) para ficar paralela à do outro (Portela). Mas, a mais, Lisboa terá uma inovadora interligação dedicada das duas plataformas mediante comboio-automático dedicado que, simultaneamente, faz o transporte entre terminais Alverca e Portela mais o transporte para o centro. Lisboa interliga/reforça o estratégico cluster aeronáutico e, com a fusão com Alverca, o próprio aeroporto Portela ganha uma estação ferroviária. O número de pessoas afetadas por ruído acima do regulamentar 65 dB na região de Lisboa pelos dois aeroportos desce em queda livre para 150 pessoas (substitui na Portela a solução VINCI que afeta 37.000 pessoas) e é bastante inferior à região de Paris, onde os dois aeroportos CDG e Orly afetam 8.840 pessoas, na sua maior parte no último.

Observemos a nova função PORTELA versus aeroporto Orly

Para melhorar o relacionamento com a cidade, a operação Portela é só médio curso (Orly longo e médio curso), o que possibilita usar a pista de 3.700m como se fosse de 2.500m. Acresce o teto operacional ser até 120.000mov (Orly 250.000mov) e o horário ser ainda menor que o de Orly.

O aeroporto Portela com área de 450ha será um otimizado híbrido do par parisiense Bourget-Orly com área de 2.000ha. O abaixamento operacional libertará área para a TAP-manutenção crescer e, ainda, se introduzirem novos negócios de matriz aeronáutica, à imagem de Bourget.

Observemos a nova função ALVERCA versus aeroporto CDG

O aeroporto já tem estação ferroviária (trecho quadruplicado L. Norte), acesso por duas autoestradas e ainda a circular CREL; além disso, tem instalada a empresa de manutenção (e fabrico) OGMA-Embraer. A nova pista de 4.000m (trajetórias sobre água dos dois lados) e a área até 1.400ha permitem concentrar em Alverca três quartos do tráfego, incluindo a função HUB.

O HUB Alverca usa solo que é aeroporto há mais de um século e recupera uma área (mouchão da Póvoa, feito com diques) totalmente destruída e salinizada. E acumulará a associada área logística com a do vizinho polo já existente (o maior nacional, com cerca de 1.000ha).

O uno conjunto Alverca-Portela com um total até 1.850ha usa o território e tem conectividade rodoferroviária mais eficiente que os três separados aeroportos parisienses, cuja área soma à volta de 5.200ha.

Porquê manter o aeroporto da Portela no século XXI, mas em versão citadina de última geração?

Simplesmente porque é a melhor solução (em tempo, comodidade e dinheiro) para a larguíssima maioria dos habitantes e dos negócios. Pergunte-se aos parisienses, aos milaneses, aos nova-iorquinos, … E, já agora, pergunte-se aos turistas de curta duração se querem pagar mais de transporte até ao aeroporto do que pela taxa aeroportuária (ou até pelo próprio bilhete de avião).

Luís Janeiro, Professor da CATÓLICA-LISBON