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Programas de returnship, ou de apoio ao regresso ao mercado de trabalho têm-se tornado bastante comuns em todo o mundo. Estes programas pretendem apoiar e facilitar a reintegração na vida profissional de pessoas que por algum motivo interromperam a sua carreira. Estas pausas, em geral, refletem a realidade de que nem sempre é possível equilibrar de maneira satisfatória a vida profissional e pessoal. Portanto, principalmente as mulheres, decidem realizar pausas mais ou menos longas nas carreiras (pausas que vão desde 2 anos e chegam até ter 15-20 anos) de forma a dedicarem mais tempo à sua vida pessoal.

Os motivos vão desde o tempo necessário para apoio à família (sejam eles filhos ou progenitores), ou para a dedicação a algum projeto específico. Por exemplo, em países como os EUA, são frequentes os programas de returnship que envolvem a reintegração de veteranos de guerra.

As interrupções de carreira não são novidade. Já é discutido há muitos anos e a pandemia veio exacerbá-lo. No entanto, o regresso ao mercado de trabalho tem-se revelado difícil e por vezes impossível para muitos. No caso das mulheres os números revelam-se ainda mais evidentes. Em Portugal, de acordo com estatísticas do INE de outubro de 2021, dos cerca de 52 000 licenciados desempregados, 65% eram mulheres.

Mas porque é que os programas de returnship ajudam?

Estes programas foram criados nos EUA em 2008. Alguma literatura refere os programas da Goldman Sachs e da Sara Lee como os primeiros a serem criados. Depois disso, começaram a ser copiados nos Estados Unidos e chegaram à Europa em 2015. A maioria oferece um período de trabalho de 3 a 6 meses, com alguma formação incluída, a grupos que variam entre as 5 e as 25 pessoas.

Estes programas são semelhantes na estrutura de apoio, mas não devem ser confundidos com estágios, dado que se trata de profissionais com experiência prévia. Os programas de returnship permitem conhecer o profissional, trazendo menos risco às empresas quando comparados com meros processos de entrevistas, onde estes profissionais são muitas vezes preteridos face a profissionais que nunca deixaram as suas carreiras e tendem a ter maior desenvoltura nos processos de recrutamento.

Numa altura em que as empresas se digladiam pela captação de talento, esta foi a forma que algumas empresas encontraram para expandir o seu leque de candidatos com elevadas qualificações, experiência, capacidade de trabalho, resiliência, maturidade e dedicação. A tudo isto junta-se a vantagem de poderem descortinar o perfil dos candidatos pretendidos para cada função.

Estas vantagens são enfatizadas nos dados internacionais que referem que os profissionais que interrompem as carreiras trazem às empresas diversidade de idade, de género e de experiência ao local de trabalho, assim como a energia e entusiasmo do regresso. Geralmente, estes trabalhadores já têm uma vida pessoal mais estabilizada tornando-se dedicados e leais às empresas para onde voltam a trabalhar.

Apesar de tudo, e daí a necessidade de alguma formação nestes programas, este perfil de candidatos pode ter algumas necessidades de atualização tecnológica o que aconselha a um período de integração na empresa de cerca de 1 a 2 meses, o que lhes permite igualmente o restabelecimento da confiança pessoal, muitas vezes esquecida durante a pausa.

E em Portugal?

Em Portugal já existe o programa da Mercedes-Benz.io que atualmente está aberto a candidaturas de profissionais que tenham interrompido o seu percurso profissional e pretendam reintegrar o mercado de trabalho. Neste caso, não há perfil pré-definido para os candidatos, pois estão a ser considerados para várias posições.

Também a Universidade Católica Portuguesa, através do Centro de Estudos Aplicados lançou há 2 anos o programa Back-to-Market (gratuito para todos os candidatos). Este programa, pretende apoiar mulheres com formação base em Gestão e Economia a reingressar o mercado de trabalho. Durante 3,5 meses as mulheres desenvolvem um projeto de consultoria, devidamente acompanhados por professores da instituição e participando em workshops de apoio. Este processo permite às candidatas terem uma experiência profissional recente, formação adequada e acesso a uma rede de contactos. Nas edições anteriores do programa resultaram numa progressiva integração das participantes no mercado de trabalho, restauração de competências, confiança e de postura das participantes.

Também as empresas parceiras neste projeto revelaram ter tido uma experiência muito positiva do programa, como revelou Margarida Couto da Fundação Vasco Vieira de Almeida: "O Back-to-Market, além de representar uma excelente oportunidade para mulheres qualificadas e talentosas prepararem o seu regresso ao mercado de trabalho, é uma mais-valia extraordinária para as entidades beneficiárias do projeto. A experiência da Fundação Vasco Vieira de Almeida foi extremamente positiva, e o output da equipa de projeto teve um valor largamente superior à contrapartida financeira envolvida, tendo sido preparado com um profissionalismo notável por todas as envolvidas."

Dado o estado atual do mercado de trabalho, não parece haver dúvidas que programas de reintegração no mercado de trabalho é uma aposta vencedora que vieram para ficar e com os quais todos ganham - seja quem pretende reintegrar o mercado (principalmente mulheres), sejam as empresas que precisam contratar recursos qualificados, motivados, para além de promoverem a diversidade no ambiente de trabalho.

Rute Xavier e Karen Ferrez Frisch, professoras da Católica-Lisbon School of Business & Economics e responsáveis pelo projeto Back-to-Market