Don't be a Blockbuster in the Netflix world: AI is here to stay!

CATÓLICA-LISBON
Friday, April 4, 2025 - 15:00

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O GEM Global Report 2024-2025 soa um alarme, mas também evidencia uma oportunidade de ouro. As empresas que vão dominar o seu setor daqui a cinco anos estão a dar os primeiros passos na IA hoje.

Imagine se um empresário em 1997 dissesse: “Esta coisa da Internet? É só uma moda passageira. Os meus clientes vão sempre preferir as máquinas de fax”. Hoje rimo-nos, mas, na altura, muitos empresários credíveis acreditavam genuinamente nisso – pouco antes de a revolução digital os obrigar a correr para recuperar o atraso.

Hoje, estaremos a assistir a uma repetição da história? O GEM Global Report 2024-2025 revela dados surpreendentes: a maioria dos novos empresários não vê como a inteligência artificial (IA) poderá mudar os seus negócios nos próximos anos. Segundo o relatório, em aproximadamente três de cada quatro países inquiridos (36 em 49), menos de 30% dos empresários pensam que a IA será muito importante para as suas empresas nos próximos três anos.

É estranho o facto de, mesmo numa Europa com muita experiência em tecnologia, tantos empresários ignorarem a IA. Países como a Polónia e a Sérvia apresentam algumas das taxas mais baixas de interesse na IA. Isto constitui um sério ângulo morto - não se trata apenas de desperdiçar uma ferramenta útil, subestimar o impacto da IA como um todo nos setores e empresas, coloca a sua sobrevivência em risco, uma vez que em todos os mercados há concorrentes que adotam estas tecnologias e avançam a toda a velocidade. Faz lembrar a forma como o acesso à Internet dividia as empresas no início dos anos 2000 - as que foram rápidas na sua adoção prosperavam, enquanto as outras tinham dificuldades em competir.

Enquanto incautos e distraídos relaxam, a IA está a revolucionar discretamente a forma como as empresas mais atentas funcionam, com vantagens significativas em todos os aspetos das suas operações. As formas mais acessíveis de IA, como as aplicações de IA generativa, já não são exclusivas dos gigantes da tecnologia - está a tornar-se tão essenciais como ter um e-mail.

Em primeiro lugar, a análise preditiva potenciada por IA gera capacidades sem precedentes de deteção de oportunidades inexploradas e vantagens de primeiro acesso a novos mercados e segmentos de clientes. As empresas podem a tomar decisões mais inteligentes e mais rápidas, detetando padrões na informação sobre os clientes que não seriam facilmente (ou tão rapidamente) identificados por análise humana. Isto permite prever o que está para vir com uma precisão notável - imagine saber quais os produtos que venderão melhor na próxima estação antes de encomendar o inventário.

A experiência do cliente é uma outra área importante que pode ser transformada através da IA. As ferramentas inteligentes lembram-se das preferências e antecipam as necessidades, criando experiências personalizadas para cada cliente que fomentam lealdade e aumentam as vendas. Ao mesmo tempo, as operações internas tornam-se mais eficientes através da automatização de tarefas repetitivas, libertando a criatividade humana para o que é essencial.

Podemos afirmar que há um potencial de transformação muito significativo que está a ser deixado em cima da mesa. Estas novas capacidades organizacionais já não são meras extravagâncias, estão a tornar-se tão básicas para o sucesso empresarial como ter um website. E o fosso de potencial de crescimento entre as empresas que utilizam estas ferramentas tecnológicas e as que as ignoram aumenta todos os dias.

O relatório GEM revelou ainda que muitos empresários responderam "não sei" quando questionados sobre a importância da IA - revelando uma mentalidade arriscada de "vamos esperar para ver". É como ver a Netflix a crescer em 2010 e pensar: “Vamos esperar para ver se o streaming realmente pega”, enquanto gerimos uma cadeia de loja de aluguer de vídeos.

As empresas que se lançam agora na IA estão a aprender, avançando numa curva de experiência de resultados marginais crescentes e criando um fosso de vantagem que se tornará cada vez mais difícil de ultrapassar para os mais lentos. A aprendizagem nas organizações é sempre um esforço, tanto para a liderança como para as equipas, e a implementação da IA não é exceção. Esperar significa que a sua força de trabalho estará a lutar para aprender o básico quando os concorrentes já estiverem a implementar técnicas e processos avançados com pessoal bem treinado.

As mudanças não se fazem sentir apenas a nível interno, as expectativas dos clientes também estão a mudar. À medida que as pessoas experimentam a velocidade, a personalização e a conveniência proporcionadas por empresas potenciadas por IA, as suas expectativas ajustam-se. O que antes era considerado um serviço excecional passa a ser o padrão mínimo, fazendo com que as empresas que não adotaram a IA pareçam desatualizadas. Até mesmo o contexto financeiro está a mudar. A falta de conhecimento da IA torna-se uma bandeira vermelha que sinaliza aos potenciais financiadores que a empresa não entende o panorama atual dos negócios, tornando mais difícil garantir o capital necessário para o crescimento e a inovação.

O relatório apresenta um argumento simples, mas poderoso: “os empresários não podem utilizar o que não conhecem”. Não é possível adotar ferramentas de que nunca se ouviu falar ou que não são bem compreendidas. Colmatar esta lacuna de conhecimentos sugere uma abordagem de sensibilização multifacetada que pode começar agora.

Em primeiro lugar, abre-se uma oportunidade para a formação. Podem ser desenvolvidos programas de formação práticos que mostrem exatamente como as pequenas empresas podem utilizar a IA - não conceitos teóricos, mas formação prática do tipo “como utilizar isto amanhã”. Estes programas podem ser complementados por guias adaptados a sectores específicos, funcionando como um GPS para a adoção da IA, em vez de deixar as empresas a vaguear sem rumo por terrenos tecnológicos complexos.

A democratização do acesso à IA garante que a inovação não se limita apenas às empresas maiores ou mais bem financiadas, promovendo a inclusividade e resiliência do tecido empresarial. Neste contexto, há espaço para a criação de parcerias entre entidades públicas e as próprias empresas, de forma a tornar as ferramentas e a formação em IA acessíveis a todos. Além da formação, a criação de um ecossistema de mentores que ligue os especialistas em ferramentas de IA aos recém-chegados poderá contribuir para acelerar a transferência de conhecimentos.

Aprender com casos de sucesso é sempre eficaz. O relatório destaca exemplos de empresas como a Edventures, que utiliza a IA para fornecer coaching empresarial personalizado, e a Ubyko, que combina IA com robótica para serviços de entrega em cidades inteligentes. O grande desafio é fazer com que estas histórias não sejam exceções - devem sim tornar-se exemplos motivantes de um novo normal para empresas competitivas.

Em conclusão, o momento é agora! O GEM Global Report 2024-2025 soa um alarme, mas também evidencia uma oportunidade de ouro. As empresas que vão dominar o seu setor daqui a cinco anos estão a dar os primeiros passos na IA hoje, mesmo que a passos de bebé e com orçamentos limitados. A dúvida não é se a sua empresa acabará por ter de se adaptar a um mercado alimentado por IA, é se vai liderar esse processo ou tentar desesperadamente recuperar o atraso. Eu diria que a vista dos lugares da frente é sempre melhor.

Silvia Almeida, Professora da CATÓLICA-LISBON