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Estudo alerta que "a segunda metade do ano pode afigurar-se mais adversa fruto das diversas pressões sobre a conjuntura económica: inflação elevada e taxas de juro crescentes."

A economia portuguesa terá crescido 2,3% em termos homólogos e apresentado uma variação nula em cadeia no segundo trimestre, estima a Católica, que alerta que a previsão enfrenta uma "enorme incerteza" atendendo aos dados disponíveis.

Segundo as estimativas do NECEP - Católica Lisbon Forecasting Lab, no segundo trimestre de 2023, a "economia portuguesa deverá ter registado uma variação nula em cadeia, o que corresponderia a um crescimento de 2,3% em termos homólogos".

Em comunicado, a instituição alerta que a estimativa "encerra uma enorme incerteza até porque o crescimento do primeiro trimestre foi inesperadamente forte" e não descarta que "uma eventual contração em cadeia é bastante verosímil", ainda que não seja motivo de preocupação caso apresente uma variação "relativamente pequena".

Para a Católica, o ponto central da estimativa de crescimento da economia portuguesa "é revisto em alta para 2,4% em 2023, embora com um intervalo amplo de 1,8% a 3,0%", refletindo "o efeito mecânico da surpresa positiva do primeiro trimestre".

À semelhança do que disse na análise ao primeiro trimestre do ano, o NECEP repetiu que "a segunda metade do ano pode afigurar-se mais adversa fruto das diversas pressões sobre a conjuntura económica: inflação elevada e taxas de juro crescentes", pressões a que se pode associar "um provável agravamento da disponibilidade de crédito fruto da maior turbulência no sistema financeiro".

Já o consumo privado e o investimento parecem "continuar com uma dinâmica frágil e contingente".

A Católica reviu em baixa a projeção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024 para 1,4% (contra 1,5% no trimestre anterior) e manteve a estimativa para 2025 nos 1,6%.

Segundo os autores da análise, as estimativas para os próximos dois anos refletem "os efeitos adversos que a pandemia poderá ter tido no crescimento potencial da economia portuguesa, bem como os custos da inflação e das taxas de juro para a atividade económica".

Na mesma nota, a instituição destacou que a inflação média no segundo trimestre foi de 4,4%, com uma variação homóloga de 3,4% em junho, enquanto a média anual foi revista em baixa para 5,1% este ano - "mais precisamente entre um intervalo de 4,1% e 6,1%, fruto de uma descida relativamente rápida no segundo trimestre", ainda que "persistam sinais de que o fenómeno não está controlado".

Já a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) "deverá contribuir para uma redução da inflação na zona euro e em Portugal, mas apenas no limiar de 2024, dado que as taxas diretoras estão ainda no intervalo entre 3,5% e 4,25%".

Face à instabilidade recente dos sistemas financeiros norte-americano e europeu, que "tornou mais difícil antecipar a evolução da política monetária", a Católica regista que a Reserva Federal e o BCE "poderão ceder à tentação de tolerar elevadas taxas de inflação, claramente acima de 3%, durante mais tempo para evitar causar dificuldades excessivas à sustentabilidade dos balanços dos bancos que regulam".

A análise aborda, também, o desemprego em Portugal, que "parece dar sinais de uma ligeira subida para um ponto central de 6,5%, um valor que, sendo inferior à média histórica recente, corresponde a um desenvolvimento novo no período pós-pandemia que precisa de ser seguido com atenção".

O desempenho da economia portuguesa deverá ser, segundo as previsões da Católica, superior ao da Zona Euro, que apresenta um intervalo compreendido entre uma contração de 0,5% e um crescimento de 0,7%, para um ponto central do crescimento do PIB em 0,1%.

"Mantém-se, assim, o risco de uma recessão suave que parece agora o cenário mais provável, dados os desenvolvimentos recentes das economias alemã e francesa. As dificuldades do sistema financeiro são um risco novo que altera a visibilidade sobre a velocidade com que o BCE conseguirá domesticar a taxa de inflação sem causar danos nesse sistema", concluem os autores da análise.

A inflação da Zona Euro é estimada num ponto central de 5,5% para este ano, balizada por taxas pessimistas e otimistas de 6,5% e 4,5%, respetivamente.