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Em 2013, o Airbnb contratou o Chip Conley, na época com 52 anos, para a posição de diretor de hospitalidade global e estratégia da empresa. Chip conta que tinha pelo menos o dobro da idade de qualquer outra pessoa no escritório.
Num registo mais divertido, no filme “The Intern”, o Ben, um viúvo de 70 anos, interpretado pelo Robert de Niro é recrutado como estagiário na empresa de moda da Jules Ostin. Que seja realidade ou ficção, até 2021, os baby boomers eram o grupo geracional com maior representatividade nos Estados Unidos e no último livro do Andrew Scott e de Lynda Gratton,”The New Long Life”, percebemos melhor o impacto dos avanços tecnológicos e a longevidade na vida das pessoas, das empresas e das universidades.
Embora seja difícil antever o impacto da robotização no trabalho dentro de algumas décadas, existem dados que oferecem algumas pistas. Por exemplo, um relatório da McKinsey afirma que, até 2030, 800 milhões de trabalhadores poderiam perder seus trabalhos para os robôs.
No entanto, as competências emocionais como empatia, ou cognitivas, como a tomada de decisão, estão, para já, fora de alcance desta automatização e robotização e podem ser uma vantagem para as pessoas com várias décadas de experiência.
Pode aqui relembrar-se do Ben no filme “Intern” que não dominava o mercado da empresa (moda online) e muito menos tinha habilidades técnicas, mas prova, ao longo do filme, que tinha muito a ensinar a todos na empresa. Dessa forma, casado há 46 anos e trabalhando para a mesma empresa há várias décadas, ensina a um dos empregados de camisa xadrez o valor da lealdade. Também, ele observa Jules de perto, para ajudar a tornar o seu trabalho mais fácil e, por sua vez, o negócio a funcionar de forma mais eficaz. De maneira mais anedótica, ele faz tarefas deixando de lado o seu ego, mesmo que isso signifique ajudar a resolver a correspondência ou mesmo limpar as mesas.
No entanto, a idade continua a ser medida da mesma maneira de sempre, cronologicamente, quando hoje uma pessoa de 65 anos pode ter uma vida, experiência e saúde muito melhor que as gerações anteriores. Com a longevidade acrescida (lifespan) e com uma boa saúde (healthspan), a idade devia ser medida de maneira biológica baseada no futuro que uma pessoa tem pela frente (já há empresas como a Insidetracker que permitem identificar o seu “inner age” – com análise de sangue – que pode não ser igual à sua idade cronológica consoante a seu estilo de vida, etc…).
Sendo assim, uma das implicações da longevidade ao nível da sociedade é que múltiplas gerações vão coabitar mais no trabalho, nas empresas, nas universidades e nas comunidades.
Em termos de educação, a nossa missão como universidade é a de preparar pessoas para a vida e para o trabalho. No contexto de mudança tecnológica acelerada e de longevidade, todos vão precisar de mais formação ao longo da vida, além da formação académica clássica do início da vida.
Em vez de uma vida com estudo, carreira e reforma temos de preparar-nos para múltiplos momentos de estudos e de múltiplas carreiras na vida corporativa ou fora das empresas. Construir uma cultura de diversidade, respeito e empatia é fundamental para solucionar os possíveis choques de pensamento que diferentes gerações possam ter num mesmo ambiente de trabalho. Um lugar agradável, com relações humanas positivas e construtivas ajuda a despertar o melhor em cada um.
Céline Abecassis-Moedas, Professora na CATÓLICA-LISBON