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Só os negócios responsáveis permitirão saúde financeira

Quinta, Julho 4, 2019 - 08:56
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O Center for Responsible Business & Leadership, que conta com a BP Portugal e a Efacec como parceiros fundadores, já é uma realidade na CATÓLICA-LISBON. O objetivo, segundo Nuno Moreira da Cruz, é transformar o centro numa referência académica europeia e sensibilizar o mundo empresarial para a relevância dos negócios responsáveis.

Depois de uma curta experiência no setor bancário, Nuno Moreira da Cruz passou pela BP, trabalhando em várias áreas de negócios, em Bruxelas, Madrid e Londres. Regressou a Portugal para integrar a Galp como membro do Conselho de Administração, e foi também CEO da Galp Espanha nos últimos cinco anos.

Desde a semana passada é diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da CATÓLICA-LISBON, um novo centro de conhecimento que vai investigar e incutir nos alunos a noção de responsible business.

Em entrevista ao Link To Leaders, Nuno Moreira da Cruz fala desta nova iniciativa que vai dirigir e da sua visão sobre os negócios sustentáveis, inclusivos e rentáveis.

Qual é o objetivo do Center for Responsible Business & Leadership?
Temos como visão a longo prazo transformar o centro numa referência académica europeia no desenvolvimento do conhecimento nestas áreas e dessa forma sensibilizar o mundo empresarial para a relevância destes desafios.

Que iniciativas têm previstas?
Através da investigação, ensino e consultoria para empresas, a nossa missão é preparar estudantes e executivos para a compreensão exata do conceito de “negócio responsável”  e com isso impactar o desenho de atuais e futuras estratégias corporativas.

A principal expetativa está expressa no Purpose que definimos para o centro: Contribuir para que a sustentabilidade e o exercício de lideranças responsáveis passem a fazer parte integrante da forma como decorre a vida das empresas e da sociedade em geral.

Quais as expetativas da CATÓLICA-LISBON com lançamento desta iniciativa?
A principal expetativa está expressa no Purpose que definimos para o centro: contribuir para que a sustentabilidade e o exercício de lideranças responsáveis passem a fazer parte integrante da forma como decorre a vida das empresas e da sociedade em geral.

Qual o papel da BP Portugal e da Efacec que são parceiros fundadores deste centro de conhecimento?
Os nossos parceiros fundadores são agentes económicos de grande relevância e peso não só na sociedade portuguesa, mas também pela projeção que têm em vários outros mercados. Têm desenvolvido a sua atividade de forma responsável, com grande preocupação pela sustentabilidade, contribuindo de forma direta e indireta para a criação de valor de vários stakeholders (empregados, clientes, fornecedores e comunidades locais). A sua vasta experiência em “lições aprendidas” (êxitos e dissabores) a nível internacional, juntamente com os sólidos processos de gestão que os caracteriza, serão seguramente uma mais valia para o crescimento do Centro.

“São cada vez mais os estudos e exemplos que provam a ligação direta entre estratégias de sustentabilidade e resultados positivos”.

No atual panorama empresarial nacional, start-ups incluídas, quais os desafios que se colocam à construção de um negócio responsável com foco na criação de valor?
A criação de valor para as empresas resulta sempre de um maior volume de vendas, de um “premium price”, de redução de custos ou no mínimo da mitigação de riscos e defesa da reputação. São cada vez mais os estudos e exemplos que provam a ligação direta entre estratégias de sustentabilidade e resultados positivos. Mais do que nunca, este é o momento para as empresas entenderem que “short term performance” sem políticas de sustentabilidade é “receita para desastre” nos próximos anos. O grande desafio é entender que já não se trata simplesmente de criação de valor para a empresa, mas sim da criação de valor partilhado, entre a empresa e a sociedade onde se insere.

Na sua perspetiva, as empresas portuguesas já estão conscientes da importância da criação de negócios responsáveis ou a vertente puramente financeira continua a prevalecer?
Não vai ser possível no futuro dissociar uma da outra: só os negócios responsáveis permitirão saúde financeira, sustentável no tempo. Há ainda claramente um longo caminho a percorrer no universo empresarial português, mas felizmente já há várias histórias de êxito. E a consciência vai mudar necessariamente, uma vez que os cidadãos e consumidores estão cada vez mais atentos a esta realidade e exigirão diferentes padrões de conduta. Cidadãos e consumidores tomam decisões diárias sobre o que fazer para proteger o meio ambiente e sobre “o que e a quem comprar”. Estudos de mercado indicam uma tendência clara dos consumidores para comprar, mais e melhor, produtos e serviços de empresas que reconhecidamente estejam a fazer a diferença na sustentabilidade. E este círculo virtuoso irá capacitar cada vez mais essas empresas para impulsionar a agenda de sustentabilidade.

“Não é admissível que uma empresa se preocupe genuinamente com o ambiente mas, ao mesmo tempo, por exemplo, discrimine salários por género ou fabrique os seus produtos em alguma fábrica longínqua com exploração infantil”.

De que forma poderão as empresas nacionais incluir a noção de “Responsible Business” nas suas estratégias corporativas? Quais os principais desafios que se colocam a este nível?
A noção de responsible business tem de ser entendida no seu sentido holístico (desde empregados a clientes, de fornecedores a comunidades locais) e assim deve ser pensada a componente estratégica. Não há estratégias de sustentabilidade, sustentabilidade é a estratégia. E este é provavelmente o grande desafio, tudo deve estar alinhado e mover-se ao mesmo ritmo sob pena de ser visto como “greenwashing” (dizer mais do que se faz). É preciso que se entenda que sustentabilidade é muito mais do que ambiente, estamos a falar também de questões sociais para as quais a sociedade exige resposta. Não é admissível que uma empresa se preocupe genuinamente com o ambiente mas, ao mesmo tempo, por exemplo, discrimine salários por género ou fabrique os seus produtos em alguma fábrica longínqua com exploração infantil.

De que forma a sustentabilidade e a liderança responsável andam de mãos dadas?
Na minha opinião, os grandes líderes de amanha são aqueles capazes já hoje de pôr “souls and minds” à volta destes desafios. Valores, visão, inovação, confiança e liderar com o coração são tudo práticas que cada vez mais vão distinguir os grandes líderes do futuro, com agendas claras de sustentabilidade.

Como posiciona Portugal face a outros países europeus ao nível da liderança responsável?
Em Portugal já há excelentes exemplos de empresas que entendem a importância de avançar de uma forma sustentável como a única via possível. Não estamos a falar já de “nice to have”, mas “must do” e isso começa a ser evidente em muitas preocupações dos seus lideres. Mas é evidente que estas grandes tendências começam sempre nos grandes mercados e nas grandes multinacionais e daí que haja ainda um caminho importante a percorrer. Caminho esse que vai necessariamente ser feito, quanto mais não seja porque essas multinacionais (que entendem claramente a sustentabilidade como uma fonte de vantagem competitiva) vão obrigar todos os seus fornecedores (entre as quais se encontram milhares de empresas portuguesas) a provar a sua “sustentabilidade” para poderem continuar a contratualizar futuras operações.

“A atual preocupação quase exclusiva com o interesse dos acionistas tenderá a esbater-se e as empresas que não reconheçam hoje esta realidade e se adaptem, terão muita dificuldade em sobreviver no futuro”.

Depois de uma curta experiência no setor bancário, Nuno passou pela BP, trabalhando em várias áreas de negócios, em Bruxelas, Madrid e Londres. Regressou a Portugal para integrar a Galp como membro do Conselho de Administração, e foi também CEO da Galp Espanha nos últimos cinco anos. De que forma a sua experiência nestas empresas o ajudaram a ter esta visão sobre os negócios sustentáveis, inclusivos e rentáveis?
A minha visão arranca de algo muito pragmático: acredito que sem as empresas a mudança radical que se necessita não vai acontecer. E as empresas vão ter de mudar porque o “business case for action” é cada vez mais claro. No futuro, a criação de valor só será sustentadamente obtida quando os interesses de todos os “stakeholders” relevantes forem tidos em conta na definição da estratégia corporativa. A atual preocupação quase exclusiva com o interesse dos acionistas tenderá a esbater-se e as empresas que não reconheçam hoje esta realidade e se adaptem, terão muita dificuldade em sobreviver no futuro. Como já alguém disse: Se as empresas não se transformarem em empresas social e ambientalmente mais responsáveis porque é o melhor para o mundo em que vivemos, então devem fazê-lo porque é o melhor para os seus negócios”

Nuno Moreira da Cruz, diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da CATÓLICA-LISBON

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